Celebrando o 25 de Novembro… em Londres
Por que motivo um dos nossos políticos mais bem preparados — Durão Barroso — não é candidato à Presidência da República?
Como escreveu Miguel Sousa Tavares no Expresso de anteontem, também “eu celebro, sem quaisquer complexos de esquerda, os 40 anos do 25 de Novembro”. Quando soube que o nosso Parlamento não ia assinalar a efeméride, decidi comemorá-la numa atmosfera ocidental. Rumei a Londres, capital da resistência ao nazismo e ao comunismo no século XX, sede da mais antiga democracia parlamentar do planeta.
Acontece que é também a capital do nosso mais antigo aliado. Mas a aliança luso-britânica tem sido há muito atacada entre nós pelo arcaísmo terceiro-mundista de uma certa esquerda (e de uma certa direita também). Não faço obviamente parte dessa esquerda (nem dessa direita).
Situo-me, simplesmente, entre os defensores da liberdade ordeira sob a lei. Trata-se de um clube virtual, digamos assim, que reúne pessoas da esquerda e da direita que se orgulham da civilização ocidental a que temos o privilégio de pertencer. Receio ter de revelar que, neste clube, comunistas, fascistas e terceiro-mundistas ficam á porta.
Falando de clubes, foi no Oxford & Cambridge Club que, na terça-feira passada, participei em (mais um) jantar de comemoração dos 50 anos da morte de Churchill, a 24 de Janeiro de 1965. Allen Packwood, director do Arquivo Churchill no Churchill College, Cambridge, proferiu o típico discurso churchilliano. Num tom distanciado, imparcial, recordou os factos, ponderou as críticas, citou as anedotas… Finalmente, pediu licença para agradecer a felicidade de ter existido um tal Winston Churchill que liderou a resistência europeia aos totalitarismos nazi e comunista.
No final, brindámos à memória de Churchill… e à Rainha. No início do jantar, tinhamos dado graças a Deus, de pé e em latim, pela refeição que íamos ter. Imagino o choque das nossas patrulhas ideológicas do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista. Se pudessem, os camaradinhas iam logo proibir estas “tradições reacionárias”. Pouca sorte: eles ainda não mandam, nunca mandaram, nem mandarão em Londres — capital da liberdade. Por cá, continuam a insultar o Presidente da República, eleito por maioria absoluta, em sufrágio directo e universal.
Fui entretanto a Oxford, assistir a um debate, na Oxford Union, a imponente Associação de Estudantes (de que sou, orgulhosamente, “life member”). Como habitualmente, foi precedido de jantar, de “smoking”. Os líderes masculinos da Associação de Estudantes, como manda a tradição, estavam de casaca. A líder feminina de vestido comprido. De novo agradecemos a Deus a refeição, de pé e em latim, antes do jantar. De novo brindámos de pé, no final, com um excelente Porto: à Associação de Estudantes, aos oradores convidados e… à Rainha.
Quem eram os oradores convidados? Nada mais nada menos do que José Manuel Durão Barroso e Nick Clegg (ex-vice primeiro-ministro britânico), de um lado, e Nigel Farage (líder do UKIP) e Sir William Cash (deputado conservador eurocéptico), do outro.
Foi um debate memorável. Durão Barroso liderou e venceu, por larga maioria (280 votos contra 78) defendendo moção de que o Reino Unido deve permanecer na União Europeia. Um dia alguém vai ter de me explicar por que motivo um dos nossos políticos mais bem preparados — Durão Barroso — não é candidato à Presidência da República.
De regresso a Lisboa, na sexta-feira, participei na 4ª edição do Lisbon Strategy Forum, promovido pelo Embaixador da Polónia, Bronislaw Misztal. Foi uma celebração da NATO e dos valores ocidentais que ela protege.
Miranda Calha, um socialista da velha guarda, explicou enfaticamente o que une a Europa e a América. Os valores são os mesmos, os da liberdade e responsabilidade pessoal. São os valores do Atlantismo, que a NATO protege e que nos orgulhamos de subscrever. Teresa de Sousa, jornalista do PÚBLICO, realçou o papel da NATO perante as novas ameaças do terrorismo islâmico e da arrogância de Putin. Vinte embaixadores de países da NATO participaram no evento e no almoço que o encerrou.
Mais de 115 deputados trabalhistas desafiaram Jeremy Corbyn, o novo líder esquerdista do Partido Trabalhista britânico, anunciando que vão votar a favor da proposta conservadora de bombardeamentos na Síria. O Presidente francês, François Hollande, socialista, apelou directamente aos deputados trabalhistas para apoiarem a proposta do Governo conservador britânico. Na próxima quinta-feira, dia da votação da proposta no Parlamento britânico, realizam-se também eleições parlamentares no círculo de Oldham West. Ex-ministros e deputados trabalhistas já apelaram à demissão de Corbyn, se os trabalhistas perderem este círculo para o UKIP.
Professor universitário, IEP-UCP