Suicídios nas forças de segurança

O assunto é recorrente. Depois de várias vezes sermos alertados para o problema do suicídio nas forças de segurança, o assunto é então discutido mas depressa posto de parte, sem que medidas de fundo sejam postas em prática.

Um semanário dedicava recentemente duas páginas ao tema, sendo de notar que uma era totalmente preenchida com uma imagem a negro de um homem armado e a outra descrevia as 15 mortes ocorridas em 2015, sem que fossem divulgados os sinais de alarme que prenunciam um gesto autodestrutivo e sem que tivessem sido sugeridos locais de atendimento imediato de indivíduos em risco. As declarações de especialistas ouvidos sobre o assunto foram reduzidas a escassas linhas, sem serem descritas as suas propostas ou recomendações. Assim, esta notícia, por certo bem-intencionada, ignorava as recomendações internacionais de evitar o sensacionalismo e indicar sempre locais de auxílio imediato, onde poderão recorrer as pessoas em risco, eventualmente encorajadas, com essas notícias, a repetir o gesto dos que se suicidaram.

A realidade não pode ser escondida. Os profissionais das forças de segurança são sujeitos a elevados níveis de stress e, acima de tudo, têm um método de suicídio ali à mão, a arma que transportam. Dos 15 suicídios ocorridos este ano, todos foram cometidos com arma de fogo e dez foram realizados no local de serviço ou nas suas imediações. Sendo o suicídio um fenómeno multideterminado, no qual ocorrem factores biológicos, psicológicos e sociais, nunca deveremos deixar de acentuar que quando se juntam intenção suicida e método eficaz (arma de fogo), a possibilidade de ocorrência de morte por suicídio é elevada.

As instituições ligadas às forças de segurança têm revelado alguma preocupação com o problema, que se tem traduzido pela criação de consultas de Psicologia e maior cuidado na atribuição de armas de fogo aos seus agentes. No entanto, esta última medida é muito difícil de pôr em prática, porque tem implicações na discriminação dos profissionais, cuja função está quase sempre ligada ao uso de porte de arma. Por outro lado, temos de perceber que os suicídios ocorrem em todas as forças de segurança espalhadas pelo mundo, pelas razões apontadas de coexistência de vulnerabilidades pessoais e de método disponível.

O que as direcções das forças de segurança deveriam ter em conta é que não dispõem de um serviço de Psiquiatria apto a dar resposta a esta questão. Embora disponham de psicólogos (aliás em número insuficiente para as necessidades), não têm consultas de Psiquiatria disponíveis de imediato, nem se preocuparam em estabelecer protocolos de colaboração com os Serviços de Psiquiatria existentes em cada distrito, única forma de garantir uma resposta rápida e de todas as dimensões.

A investigação prova que a depressão está presente na maioria das mortes por suicídio e que a medicação é crucial nos casos de doença depressiva grave, por isso é para mim incompreensível que muitas vezes não sejam chamados psiquiatras para tratar os agentes de segurança em risco. Com o maior respeito pelos psicólogos envolvidos, que certamente são essenciais na detecção dos agentes vulneráveis, a implicação de psiquiatras tem de ser uma prioridade absoluta e urgente. César Nogueira, presidente da Associação de Profissionais da Guarda, diz “o que interessa é responder a tantos suicídios”: tem razão, o que importa é que se responda bem.

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