Nem esquerda nem sindicatos na manif contra Governo de direita
Movimento15 de Outubro queria apoio dos sindicatos e partidos para exigir a Cavaco que se despache a dar posse a um executivo do PS. Mas só conseguiu juntar 35 pessoas.
Foi um início de noite muito sossegado ao fundo da escadaria do Parlamento: nem os sindicatos nem qualquer partido de esquerda acedeu ao apelo da Plataforma 15 de Outubro para se juntarem num protesto contra a manutenção do Governo PSD/CDS e para exigir que o Presidente da República nomeie um executivo do PS.
A partir das 18h, no passeio junto às escadas reuniram-se, no máximo, 35 pessoas, na sua larga maioria jovens, ao lado de uma faixa de alguns metros, pendurada nas grades da polícia, com as caras de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas, e a palavra FORA escrita com enormes letras vermelhas. Os pequenos cartazes improvisados em cartão ficaram no chão, assim como outras duas faixas bem enroladinhas. Mas é certo que um dos jovens se esforçou por animar os outros. A dada altura pegou no megafone e lá entoou: “Sai da toca, coelho sai da toca!”, “Nós só queremos coelho à caçador!”, e ainda “Fora, fora, fora já! Vai-te embora Passos, deixa a TAP cá!”.
Gonçalo Gomes, do Movimento 15 de Outubro, que organizou a manifestação, lamentou a pouca afluência, que justificou com a falta de eco do convite. “Contávamos com a capacidade de mobilização que teriam os estivadores, a CGTP, o PCP e o Bloco, se tivessem acedido ao apelo”, disse o organizador, acrescentando que o caso dos atentados em Paris acaba por “absorver tudo, até a situação nacional”.
"Convocamos todos os trabalhadores, desempregados e pensionistas para uma manifestação em frente ao Parlamento para correr de vez com a direita. Apelamos à participação da CGTP, de sindicatos independentes, como os estivadores, assim como dos movimentos sociais e de todos os indignados. É hora de a nossa indignação voltar a rebentar na escadaria de S. Bento! Passos, Portas e Cavaco, nunca mais!", lia-se na convocatória da manifestação. "É preciso voltar às manifestações explosivas em frente ao Parlamento para assustar o poder, como em 2012 foi feito contra a TSU", dizia.
O objectivo era “dizer ao Presidente da República que esta situação não pode continuar ad eternum, com o país sem Governo. Até quando o país vai continuar refém de o Presidente querer manter à força PSD e CDS no Governo?”, questiona Gonçalo Gomes. “O PR deve dar posse ao PS por ser a solução saída do Parlamento e o PS deve cumprir o seu programa”, defende o activista.
PCP e Bloco sentados à espera de Cavaco
Sentir-se-ão os partidos de esquerda constrangidos em vir para a rua exigir ao Presidente que lhes dê o poder? Gonçalo Gomes não vê razões para isso. Dizerem que chegaram a um acordo à esquerda “é bom, mas não chega”. “É necessário virem para a rua dizer isso, convocarem as pessoas. Não se entende o porquê de não estarem a fazer mais. Além de ser do interesse deles, é do interesse do país”, vincou o activista.
PCP e Bloco “estão sentados à espera que o Presidente algum dia resolva fazer alguma coisa porque não há prazos. Enquanto [Cavaco Silva] faz e não faz, o país continua parado, com um Governo de gestão, quando não há necessidade disso. Devia ser responsabilidade deles exigir que o Presidente da República se mexa", insiste.
A mobilização nas redes sociais – 300 pessoas disseram no Facebook que iriam à concentração, 500 tinham dito talvez, segundo Gonçalo Gomes – acabou por não se materializar em pessoas na rua, mas o organizador defendeu que a iniciativa vale pelo simbolismo e “não tira força” à questão essencial: exigir que o Presidente faça alguma coisa e depressa.
“Simpatize-se ou não com a alternativa apresentada, é a que existe. É suposto cumprirem-se as leis da República” diz Gonçalo Gomes que olha para o calendário e lembra a actual viagem do Presidente à Madeira: as eleições foram há quase mês e meio, o Governo foi chumbado há uma semana, a alternativa existe, o Presidente não diz nada nem há previsão para o fazer.
“Cavaco Silva está a brincar com o fogo porque é ele quem está a criar instabilidade com o seu discurso e com a sua demora. No discurso disse que ia haver instabilidade se não houvesse um Governo, então agora ao não se despachar a nomear um Governo é ele o foco da instabilidade”, acusa Gonçalo Gomes.