É hoje aceite que nos próximos 20 anos vamos assistir a mudanças tecnológicas superiores às que ocorreram nos últimos 300 anos. Com efeito, a tecnologia entrou numa fase de crescimento exponencial, com tempos de desenvolvimento cada vez mais rápidos.
A invenção da máquina a vapor, por James Watt, em 1781, mudou o mundo mas, à época, foram necessários 70 anos até se conseguir duplicar o seu rendimento. Evolução extremamente lenta, quando comparada com o que nos habituámos a presenciar no mundo do digital, onde a lei de Moore tem assegurado duplicações de desempenho a cada dois anos.
O conceito de crescimento exponencial não é nada intuitivo e é difícil de compreender. Todos se lembram da história do matemático que inventou o jogo de xadrez e do rei que se apaixonou pelo jogo, tendo ficado de tal forma reconhecido que prometeu ao matemático que lhe dava o que ele pedisse. O matemático respondeu que apenas queria que ele lhe desse todo o trigo que resultasse de colocar um grão de trigo na primeira casa de um tabuleiro de xadrez, dois grãos na segunda casa, quatro na terceira casa, oito na quarta casa e assim por diante até à casa numero 64. Todos sabem como a história acabou: o rei que, como nós, não entendia o crescimento exponencial, aceitou de imediato o pedido, mas sentiu-se ludibriado ao perceber que não havia trigo no mundo que lhe permitisse pagar a promessa e mandou matar o matemático.
Se nos é difícil intuir o impacto da inovação exponencial, mais difícil se torna entender a conjugação deste comportamento com a inovação combinatória, a qual abre um conjunto de possibilidade ilimitadas. Com efeito, as alternativas para combinar tecnologias, em cada momento, são tantas que, se congelássemos hoje o desenvolvimento tecnológico, as formas diferentes de criar inovações conjugando tudo o que já sabemos seriam infinitas.
A Tesla é uma das empresas que melhor materializa a inovação combinatória: trata-se de uma construtora de veículos, mas também uma empresa de soluções de energia, com a visão de reinventar as empresas de mobilidade e de energia conjugando múltiplas tecnologias que vão dos veículos eléctricos aos painéis fotovoltaicos, passando pelas baterias e a inteligência artificial.
É no digital que este efeito combinatório se torna mais potente. Na internet, combinar ideias, linguagens, rotinas, informação, exige um esforço menor porque os "bits" não se gastam e podem ser utilizados inúmeras vezes em distintas combinações.
É interessante verificar que enquanto no passado uma empresa tradicional, da Fortune 500, levava 20 anos a atingir uma capitalização bolsista de um bilião de dólares, no digital a inovação exponencial e combinatória têm feito reduzir estes tempos para valores quase inacreditáveis. A Google levou oito anos a atingir este objectivo, a Facebook cinco anos, a Uber ou a Snapchat apenas dois anos. As capitalizações bolsistas atingidas por algumas empresas do digital são impressionantes: em Abril de 2015, a Uber tinha uma valorização de 41 biliões de dólares, a Airbnb de 13 biliões e a Amazon de 199 biliões, valores várias vezes superiores ao de empresas semelhantes do mundo tradicional, como a Avis, a Hyatt ou a Tesco.
Estas novas empresas do digital têm aparecido quase exclusivamente nos EUA, embora tenham uma parte importante do seu mercado na Europa. A pergunta que se coloca é o que estamos a fazer de errado deste lado do mundo. Certamente não é falta de talento, mas antes problemas culturais e a ausência de capital de risco que potencie o crescimento rápido de “start-ups” de elevado potencial. Mas as coisas estão a mudar rapidamente e cada vez mais se verifica que a ambição das novas gerações já não é trabalhar numa grande empresa mas antes criar o seu próprio projecto.
O que nos cria a expectativa de que nos próximos anos apareça, numa garagem portuguesa, uma “start-up” que em poucos anos atinja a capitalização bolsista de um bilião de dólares, que lhe permita entrar no clube restrito das empresas Unicórnio.