A música moderna tem mercado (falta o investimento)
Por mais paradoxal que pareça, a maioria dos concertos realizados, bem como as vendas de música, provêm da música comercial moderna.
Uma constatação geral é a de que a indústria musical nacional é de pequena dimensão e que há pouco futuro para alguém que queira ser músico neste país. É uma verdade que se pode alterar em apenas algumas décadas, nomeadamente quando falamos em música comercial moderna (leia-se: todos os géneros de música que são comerciais, modernos e contemporâneos, ditos “não clássicos”). A dimensão da indústria nacional de música comercial moderna é, de facto, pequena comparativamente com a do Reino Unido, Estados Unidos, Canadá e Brasil. Inclusivamente, comparando com um país como a Suécia, cuja população é inferior à de Portugal, rapidamente concluímos que a nossa realidade é completamente diminuta em quantidade e qualidade. A Suécia conta com 52 mil entradas anuais, de música comercial moderna, em tabelas de vendas por todo o mundo e a sua indústria musical apresenta um retorno anual direto de 675 milhões de euros que advém de um investimento de 116 milhões. A maior fatia desse investimento é em formação.
Em Portugal, um operador de ensino especializado reconhecido pelo Ministério da Educação (ME), pode candidatar-se receber de apoio por cada turma no valor de 119 mil euros/ano do Programa Operacional de Potencial Humano – POPH. Se considerarmos uma turma de 30 elementos, isso significa cerca de 4000€ por aluno anualmente. Esta reflexão que faço surge numa altura em que a falta de apoio financeiro ao ensino especializado em música está na ordem do dia. Independentemente da qualidade do que está presentemente a ser feito, não posso deixar de salientar que tem sido o ensino privado não reconhecido, dedicado ao ensino de música comercial moderna e contemporânea, quem vai fazendo milagres sem ter a possibilidade de reconhecimento pelo ME e assim receber apoios. Não é apenas o tecido de “escolas”, “academias”, “clubes” e “centros”, que é constituído por operadores não agrupados, e sem reconhecimento pelo ME, quem mantém o ensino de música comercial moderna vivo, mas também os encarregados de educação e alunos que reconhecem mais-valias no investimento que fazem mensalmente no desenvolvimento intelectual dos filhos, ou deles próprios. É por isso que se multiplicam, de norte a sul do país, os operadores dedicados ao ensino de música comercial moderna, inclusivamente alguns com padrões de qualidade internacional.
Agora ficam as questões: será que um tecido profissional com qualificações, competências e capacidade de empreendedorismo nesta área musical não seria uma mais-valia para o desenvolvimento da indústria musical nacional, resultando no que poderia ser o tão sonhado, e nunca obtido, despontar da música portuguesa e da sua aceitação internacional? Enquanto o reconhecimento pelo ME não é possível para quem dá formação de qualidade na vertente de música comercial moderna, nunca saberemos que resultado poderia existir advindo de tal investimento estratégico. Por mais paradoxal que pareça, segundo a Associação Fonográfica Portuguesa, em Portugal, a maioria dos concertos realizados, bem como as vendas de música, provêm da música comercial moderna. Os poucos especialistas com qualificações que existem nesta vertente musical, à semelhança dos instrumentistas de Jazz que até meados dos anos 2000 tiveram que ir estudar para o estrangeiro, para obterem qualificações que não podem ser obtidas em Portugal, têm que se especializar fora de portas. Podia ser diferente, pois a música moderna tem mercado mas falta o investimento.
Professor da Escola de Música de Monte Abraão (EMMA)