"Somos uma família", disse Xi Jinping ao Presidente de Taiwan
Os líderes da China e de Taiwan encontraram-se pela primeira vez, depois de 66 anos de separação.
Um longo aperto de mão e uma frase: “Somos uma família”, disse o Presidente chinês ao seu homólogo de Taiwan, Ma Ying-jeou, no primeiro encontro entre os líderes dos dois territórios desde a separação, há já 66 anos. Ambos aproveitaram a reunião para defender um caminho de aproximação pacífica, fazendo cada um questão de aludir aos temas que lhes são mais caros.
Sabia-se já que este seria, acima de tudo, um encontro simbólico – realizado em Singapura, cidade-Estado que mantém relações próximas com os dois territórios, não serviu para assinar acordos ou, sequer, para emitir uma declaração conjunta. Valeu sobretudo pela imagem dos dois presidentes – que se limitaram a tratar-se por “senhor Xi” e “senhor Ma” – de sorriso rasgado, apertando as mãos sob os flashes contínuos de uma sala cheio de fotógrafos. Xi Jinping surgiu de gravata vermelha, a cor do Partido Comunista Chinês; Ma Ying-jeou usou o azul do Kuomitang, o Partido Nacionalista Chinês (KMT).
“Nenhuma força nos pode separar, porque somos irmãos ainda unidos pela carne mesmo que os ossos se tenham partido. Somos uma família e o nosso sangue é mais espesso do que a água”, disse Xi, numa alusão ao estreito que separa a China continental da ilha para onde se retiraram as forças de Chiang Kai-shek, derrotadas por Mao Tsétung em 1949.
Pequim nunca reconheceu a separação, mas a sua actual prioridade é garantir que em Taipé continua um governo favorável à aproximação. Em Janeiro, Taiwan terá eleições presidenciais e legislativas e é quase certa a vitória do Partido Democrata Progressista (DDP), que desconfia do diálogo encetado pelos nacionalistas e insiste que o país deve seguir o rumo da independência.
Não estranha, por isso, que no encontro Xi tenha dito ao homólogo taiwanês que as forças pró-independência são a maior ameaça à paz nas relações entre os dois territórios. “Os compatriotas dos dois lados devem unir-se e opor-se-lhes firmemente”, afirmou Xi, segundo o relato que foi feito depois do encontro por Zhang Zhijun, responsável da política chinesa para Taiwan.
Do lado de Ma era essencial mostrar que a aposta do Partido Nacionalista Chinês (KMT) no diálogo com Pequim é vital para garantir o interesses da ilha e não põe em causa o actual status quo, resultado de um acordo oficioso em vigor desde 1992 e que sustenta que nem a China invade Taiwan para recuperar a ilha, nem Taiwan proclama a independência.
Em fim de mandato, Ma disse esperar que Pequim continue a usar o diálogo, e não o seu crescente poder bélico, para resolver as muitas disputas entre os dois lados do estreito, sublinhando que as relações fraternais exigem “sinceridade, sabedoria e paciência”. Pediu também a Xi que não ignore as preocupações de Taipé com o reposicionamento dos mísseis chineses – Taiwan teme mais do que qualquer outra coisa ficar sob o fogo das baterias adversárias –, ao que o Presidente chinês terá dito que as manobras nada tem a ver com as disputas com Taiwan.
E, ainda que indirectamente, exigiu que Pequim reconheça a democracia na ilha, ao afirmar que a aproximação só será possível se “os dois lados respeitarem os valores e o modo de vida do outro”.
Mas em Taipé, onde 500 pessoas saíram em desagrado por um encontro no qual vêem sinais de rendição, Tsai Ing-wen, a líder do DDP e candidata presidencial, disse estar desapontada por “não ter ouvido uma única palavra” da boca do Presidente em defesa “da democracia, da liberdade e da existência da República da China”, o nome oficial de Taiwan.