David Oliveira: natureza e ilusão com arames
Ao longe, as obras de David parecem desenhos. Na verdade são esculturas em arame e, para as perceber, é preciso observá-las numa determinada posição. As peças deste artista estão em exposição no Carpe Diem, em Lisboa, até 19 de Dezembro. A ver de perto e do ângulo certo
Desenhos a caneta preta suspensos no ar: podiam ser assim descritas as obras de David Oliveira. Este artista lisboeta criou um reino animal feito de arame entrelaçado e esticado capaz de nos transportar para um mundo de esboços.
Durante nove meses, o artista concebeu 16 espécies de animais em arame e tule a convite da associação Carpe Diem. São vários animais que voam e nadam na exposição “Movimento Total”, em apresentação no Palácio do Pombal, em Lisboa —uma iniciativa gratuita e aberta ao público até 19 de Dezembro.
Esta foi a forma que David encontrou para despertar atenções e consciências ao mundo que nos rodeia: “Quero comunicar sobre o que une todo o universo e, em particular, o planeta Terra”, explica o artista.
Foram sete meses de trabalho para concluir todas as peças e dois meses para enquadrá-las no espaço. Desde papagaios a raias e de abutres a douradas, todos os animais foram feitos com o mesmo processo, criados de dentro para fora, como o artista diz que acontece na natureza. Entre os animais representados na exposição, foram as aves que deram mais trabalho ao jovem lisboeta: criar as penas dos pássaros, uma a uma, foi o maior desafio desta exposição composta por aves e animais marítimos, todos em tamanho real.
Mas este desafio é pequeno comparando com o propósito do artista. David escolheu a arte como uma forma de comunicar: “Somos sete milhões neste planeta, todos procuramos alguém que nos entenda, para que o que temos na cabeça não morra em nós”, disse o jovem de 35 anos.
Um material simples para criações complexas
A partir desta necessidade de transmitir as suas ideias, David Oliveira começou a explorar vários materiais, encontrando o seu favorito, o arame, quando se licenciou, em 2008, em Escultura, na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Este material simples e moldável é, para o artista, o ideal para transmitir ideias e emoções fortes.
Dependendo do que quer representar, o escultor usa o arame galvanizado ou o queimado, com uma cor mais escura, e sempre com a ajuda de um alicate. Por vezes insere outros materiais nas suas esculturas para dar um efeito visual mais marcante. Em “Movimento Total” podemos ver peças com tule, que dão uma ilusão de movimento aos animais, que voam e nadam pelo Palácio do Pombal.
São mesmo estes os seres vivos que David gosta mais de representar. A natureza e todos os seus organismos e criaturas são recriados à maneira do artista: “Cada trabalho é entusiasmante porque tenho de compreender cada organismo, conhecê-lo ao máximo, observar como se move e vê-lo em todos os ângulos”, explica David ao P3. “É um trabalho muito perto da ilustração científica e torna-se muito gratificante perceber como tudo faz sentido”, continua.
De todas as obras, esta exposição é a que David tem mais carinho, pelo esforço e tempo investido. Contudo, são outras as peças que considera especiais como a “Pietà”, de Michelangelo, e o “Êxtase de Santa Teresa”, de Bernini, trabalhos importantes na sua definição enquanto artista.
Mas não só grandes obras de importantes artistas são referências para David. A inspiração vem de todos os lados e as ideias surgem todos os dias: “A comer, a passear num jardim ou até a tomar banho”, graceja o artista. Para trabalhar, David já é mais exigente: gosta de fazer as suas esculturas durante a tarde num local calmo, de preferência branco e confortável, fazendo-se sempre acompanhar pela sua gata e pelas suas músicas preferidas. São estas as exigências do artista.
O sucesso dos animais de David ultrapassa fronteiras e, na sua página no Facebook, são muitos os utilizadores que passam por lá para elogiar as suas obras. Dos Estados Unidos à Alemanha, passando pela China, muitos admiram estas esculturas e pedem exposições fora de Portugal. É através da Internet, que a maior parte dos apreciadores de arte conhecem David, que agradece muito à invenção: “A Internet é o meio! O meio que dá-me acesso à informação necessária para a execução das minhas obras e o meio que permite divulgar o meu trabalho da forma mais livre e democrática possível”.
Como sonhos profissionais, David só quer continuar no mundo da arte, mas com melhores condições para desenvolver os seus projectos. Porém, os seus desejos vão além do trabalho: “Quero viver num planeta saudável, onde há respeito por todos os seres que nele habitam”. Enquanto isso, David vai criando um mundo à sua maneira.