Tenho a sorte de ser um dos muitos amigos a sério que o Zé Fonseca e Costa foi fazendo ao longo da vida dele.
O Fonseca amava o mundo, à parte certas pessoas. Os ódios dele ardiam como grandes amores. Perguntava-me "como é que tu és capaz de gostar daquele gajo?" Quando eu respondia, ele, em vez de amuar ou de ficar zangado, encolhia os ombros e passava, magnânima e aristocraticamente, a outro assunto interessante.
O Fonseca era um senhor e um rapaz e um gajo porreiro ao mesmo tempo. Sabia viver bem e fazia questão de partilhar generosamente essa sabedoria. Ensinou-me, quando eu trabalhei com ele (e eu nunca mais me esqueci) que o prazer é mais importante do que trabalhar e que trabalhar sem prazer não valia a pena. Assim era também com os dois cineastas que o deslumbravam: Welles e Antonioni.
O Fonseca conhecia o nome de quem fazia o melhor Manhattan e a morada onde se comiam as melhores ostras. Fosse em Lisboa, Madrid, Paris, Londres, Nova Iorque, São Paulo ou Havana. E todas essas pessoas gostavam do Fonseca. Porque o Fonseca incluía-as na vida dele e apreciava-os como mereciam.
O Fonseca era um prazer, um artista e um egoísta e altruista heróico. Era um ser livre. Era destemido. Não tinha medo de fazer boa figura e muito menos má.
Até as lágrimas que me saltam dos olhos parecem felizes, só de pensar nele. Mas não poderiam ser mais tristes. Morreu o Fonseca e morrer não era coisa que ele nos fizesse.
Nem parece teu, Fonseca...