Uma modelo para primeira-dama
A mulher de Donald Trump evita ter de falar em público e prefere o recato do lar e a educação do filho de nove anos aos périplos que o marido e candidato à presidência americana faz pelo país.
Antes de conhecer Donald Trump e de passar a viver no mundo glamoroso das limusinas e das penthouse, dos diamantes e do caviar, Melania Knauss levava uma vida bastante discreta. Cresceu num dos anónimos bairros de betão da Jugoslávia, nos tempos em que o país era liderado pelo socialista Josip Tito e nem se ouvia falar de “capitalismo exacerbado”, quanto mais em “trumpismo”.
“Ela nunca foi pessoa de sobressair nem de ser o centro das atenções”, comenta Mirjana Jelancic, a amiga da escola primária de Sevnica, uma cidade que fica agora no centro daquilo que é a Eslovénia.
E depois veio o casamento com “o Donald”.
A ex-top model passou a ter uma linha de alta-joalharia, a que deu o nome Melania, a dar a cara por um creme feito com caviar a 134 euros o grama e a vestir Dior — como o vestido de 200 mil dólares que usou há dez anos, no dia do seu casamento, em Palm Beach.
Agora, com 45 anos, Melania Trump, que tanto evita ter de falar em público, está no epicentro da campanha para as presidenciais americanas de 2016, ela que é uma mulher pouco convencional de um igualmente pouco convencional candidato.
Depois de Louisa Adams, mulher de John Quincy Adams, que ocupou a Casa Branca em 1825, Melania será a primeira primeira-dama nascida fora dos Estados Unidos. É a terceira mulher de Trump — mais uma estreia para uma primeira-dama. Ronald Reagan foi o único Presidente divorciado a chegar à Casa Branca.
Melania poderá ser também a mais poliglota primeira-dama — fala quatro línguas, incluindo um inglês com forte pronúncia. E será, sem sombra para dúvidas, a primeira primeira-dama que já foi fotografada nua, em pose em cima de um tapete de peles e algemada a uma pasta de couro a bordo do jacto privado de Trump (fez capa da edição inglesa da revista GQ em 2000).
“Ela traz-lhe um grande equilíbrio [a Trump]”, garante Roger Stone, que já foi consultor político do agora candidato e conhece o casal ainda antes de ser casal. É esperta — “e não apenas um acessório” —, diz Stone. “E será a mais glamorosa primeira-dama desde Jackie Kennedy.”
Não é a primeira vez que Melania Trump está envolvida numa campanha política. Durante as primárias de 2000, Trump conseguiu ser eleito pelo Partido Reformador (uma facção do Partido Republicano) e ganhar no estado da Califórnia (acabaria por desistir pouco depois).
De uma forma geral, Melania tem sabido manter uma persona discreta e sempre como braço-direito do marido, ainda que de tempos a tempos possa confundir a vida pessoal com a política. Aconteceu, por exemplo, em Abril de 2011, quando Trump pensava candidatar-se às presidenciais e protagonizava a campanha dos birthers — as pessoas que duvidavam de que o Presidente dos Estados Unidos tivesse nascido em território norte-americano. Melania foi à televisão defender publicamente o marido, afirmando o quanto ele “é notável”, “uma mente de génio”. O jornalista televisivo Joy Behar interpelou-a: “Que obsessão é esta com a certidão de nascimento? Também lhe pediu a sua quando se conheceram?” A resposta não tardou: “Quer ou não ver a certidão do Presidente?”, respondeu-lhe Melania, sublinhando que aquilo que se tinha visto até então era muito “diferente” de uma certidão de nascimento. “Era tão mais simples se o Presidente Obama a mostrasse. Não é só o Donald que a quer ver. É essa a vontade de todo o povo americano...”
Até agora, nesta campanha para as presidenciais de 2016, Melania Trump tem mostrado mais o seu lado recatado e doméstico do que o provocador. Raramente tem acompanhado o marido nas muitas viagens que este tem feito pelo país com o seu Boeing 757.
Dizem os amigos que ela prefere ficar em casa — melhor, nas casas, porque tem a de Nova Iorque e a de Palm Beach — com Barron, o filho do casal que tem agora nove anos. O seu peripatético marido, 24 anos mais velho do que ela (Donald Trump está com 69 anos), disse por várias vezes ao longo da campanha que sabe que ela o segue pela TV e que está sempre do seu lado. “A minha mulher disse uma coisa mesmo interessante”, dizia Trump na CNN no mês passado. “Ela é a minha especialista em sondagens, ok?” — é já famosa a obsessão de Trump com os números que a sua candidatura colhe nas sondagens.
“Ela mostrou-me os grandes níveis de aprovação que eu poderia ter quando me disse: ‘Sabes que vais ganhar se de facto te candidatares, certo?’”
Em 1998, durante a Semana de Moda de Nova Iorque, Paolo Zampolli queria dar uma festa de arromba para a sua agência de modelos ID. Escolheu o Clube Kit Kat, um dos lugares mais in da noite nova-iorquina, e encheu o sítio com modelos. Entre elas, estava também Melania Knauss, uma eslovena escultural que ele tinha descoberto a trabalhar em Milão e Paris.
Zampolli disse que todos os anos percorria os principais eventos de moda europeus para descortinar quem tinha não só a beleza no sítio certo, mas também a cabeça e o temperamento resiliente para se aguentar no estafante palco da moda nova-iorquina. Em Melania, encontrou alguém “estável e focada”.
A amiga eslovena Mirjana Jelancic diz que ela já era assim mesmo nos tempos da escola. Melania Knav — mudou o apelido para Knauss quando a sua carreira de top model disparou —, era não só uma beldade como uma rapariga inteligente e de gostos práticos, que até sabia costurar e “criava roupas lindas”, disse a amiga durante uma entrevista feita na terra natal das duas, Sevnica.
E soube manter esse estilo de vida quando chegou a Nova Iorque, em meados dos anos 1990: Melania preferia poupar dinheiro a mergulhar na vida social, confirma outra amiga, a também modelo Edit Molnar. “É muito caseira”, diz Molnar ao telefone a partir de Paris, onde agora vive. “É mesmo o oposto de Donald Trump.”
Molnar recorda-se daquela noite no Clube Kit Kat — Melania só foi por lealdade com Zampolli, o dono da agência de modelos que a representava. Trump também por ali cirandava com um date e tinha acabado de se separar da segunda mulher, Marla Maples. Molnar lembra-se de como ele ficou embeiçado por Melania: “Esta mulher é incrível. Quero-a”, lembra-se de o ouvir dizer. Melania não lhe deu o número de telefone, mas ele insistiu e deixou-lhe o dele — e ela usou-o poucos dias depois.
Diz Zampolli que não levou muito tempo até estar sentado com ela e Trump na limusina preta para irem jantar com o ilusionista David Copperfield ao famoso Cipriani.
Era o início de uma vida na limusina de Trump, no helicóptero de Trump, no jacto de Trump.
“As pessoas vão começar a gostar dela quando a conhecerem”, diz Zampolli. “E não vai demorar muito que se apaixonem por ela.”
A partir do momento em que se tornou a namorada de Trump, Melania passou a ser também alvo da cobiça alheia — em muito graças à fanfarronice do agora candidato sobre a vida sexual do casal. O controverso e provocador animador de rádio Howard Stern entrevistou-os por telefone em 1999 e não resistiu a perguntar a Melania o que é que ela tinha vestido naquele momento. “Pouco”, respondeu-lhe ela com algum pudor.
Melania é dona de um sex-appeal que poucos podem negar quando se vê o resultado da sessão fotográfica que fez a capa da GQ em Janeiro de 2000. Os olhos de um azul-esverdeado glacial. Os lábios carnudos. O corpo sedutor em cima de um tapete de peles a bordo do jacto de Trump. Um cintilante colar ao pescoço, nada a cobrir-lhe o corpo. “Sexo a 9 mil metros de altitude. E Melania Knauss ganha direito às suas milhas”, titulava a GQ.
A sessão fotográfica tinha sido uma ideia de Antoine Verglas, fotógrafo de moda que já tinha no portfólio modelos como Cindy Crawford e Claudia Schiffer.
A revista andava à procura de fotografias sexy sobre jet-setters — quem melhor do que Knauss, a beldade cujo namorado era ele próprio dono de um jacto? Verglas, que além de fotógrafo de moda é maquilhador e cabeleireiro, passou todo o dia no hangar do aeroporto de La Guardia, dentro do jacto que Trump mandou desenhar para si próprio e que inclui, entre outras curiosidades, cintos de segurança que apertam com fivelas de ouro de 18 quilates.
“Como estava a fazer a capa de uma revista para homens, já ia preparado para ter uma sessão fotográfica muito sexy”, diz Verglas quando o entrevistámos este mês num café de Manhattan. “É uma mulher fácil de fotografar: é que ela não tem nenhuma imperfeição.” Verglas explica que apesar de Melania aparentar estar nua, na verdade ele cobriu-lhe algumas partes do corpo e “ela própria recusou determinadas posições mais expostas”. Mas aparece em várias poses: algemada a uma pasta de couro; de soutien vermelho e fio dental, óculos escuros e botas altas de pele, com um revólver na mão ao estilo Bond girl...
O artigo foi feito durante a campanha de Trump com o Partido Reformador e a GQ citou Melania sobre a possibilidade de ele se candidatar à Casa Branca e fazer dela primeira-dama: “Tudo o que faço é por ele, estou ao lado do meu homem.”
Um ano mais tarde, Melania aparecia também na edição de fatos de banho da Sports Illustrated.
Diz Verglas que enquanto fotografava Melania também estava a fazer sessões com Carla Bruni, que entretanto se casou com o antigo Presidente francês Nicolas Sarkozy. Entre uma e outra — têm idades aproximadas e estão ambas casadas com “presidenciáveis” —, Verglas aponta as diferenças. Bruni é muito mais gregária e namorou com homens famosos uns atrás dos outros, incluindo Mick Jagger e Eric Clapton.
A própria Bruni esteve brevemente associada a Trump nos tempos em que ele cortejava a princesa Diana, mal esta se divorciou do príncipe Carlos. Em contrapartida, Melania era uma rapariga a quem “não se lhe conheciam histórias de namorados”, que se manteve “afastada dessa cena” e deixava-se ficar por casa, um modesto apartamento em Nova Iorque. E, como diz Verglas, “isso é bastante invulgar nesta nossa profissão”.
Mais recentemente, quando Verglas a voltou a fotografar, já Melania estava na mansão de 118 quartos de Mar-a-Lago, em Palm Beach. “Pensei: ‘Isto é extraordinário, uma rapariga da Eslovénia em Mar-a-Lago... É a história da Cinderela.”
Em Junho, Melania estava ao lado do marido a descer as escadas da Trump Tower quando este se preparava para anunciar a sua candidatura a uma multidão exultante. E dois meses mais tarde também estava ao lado do marido para o primeiro debate republicano, em Cleveland. Mas tem sido da filha de Trump, Ivanka, que mais comentários se têm ouvido.
“É uma grande responsabilidade estar casada com um homem como o meu marido”, afirmava Melania à revista Parenting há poucos anos. “Preciso de ser rápida, esperta e inteligente.” Disse ainda que o marido “respira negócios” e que adora o seu papel como mãe a tempo inteiro. “Conhecemos muito bem o papel de cada um e vivemos felizes com isso. Acho um disparate que a mulher, mal se casa, tente mudar o homem que ama. Não se muda uma pessoa.”
No The Apprentice, um reality show apresentado e produzido por Trump, Melania fez uma visita guiada ao sumptuoso apartamento do casal na Quinta Avenida, com uma vista sobre o Central Park de cortar a respiração e uma decoração à la Versailles. “É uma mulher sortuda”, disse-lhe um dos concorrentes enquanto ela servia de cicerone. “E ele não é?”, disparou Melania, com uma flute de champanhe na mão.
Com Alice Crites, em Washington, e Nejc Trusnovec, na Eslovénia
Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post