Guiné-Bissau
Guiné-Bissau, um dia de cada vez
Saímos do aeroporto Osvaldo Vieira, em Bissau, e sentimos o bafo quente que nos faz transpirar. Há malas, caixotes, caixas, sacos, homens, mulheres, polícias, militares. E há uma explosão de cores e de um cheiro doce. O trânsito é feito ao som da buzina, sempre a fugir do próximo buraco. Gente e mais gente num labirinto desorganizado. Muitos sentados nas soleiras das portas, outros correndo, outros vagueando.
No Mercado de Bandim, no centro da capital e um dos maiores mercados a céu aberto do país, tudo se mistura e de tudo se vende. Camas, espumas, bananas, panos, detergentes, telemóveis, peixe, cadernos, tijolos, ferros, martelos, sapatos, pomadas, água pura, ovos, ventoinhas, jornais e até carneiros. O fim do Ramadão é uma ocasião especial e a comunidade muçulmana termina o jejum com uma grande festa. Depois da reza é tempo de compensar o estômago. Nada melhor que um inofensivo animal. Chamam-lhe a Morte do Carneiro. Todos de todas as etnias se embelezam com uma vaidade cuidada: muçulmanos, papéis, balantas, mandingos, maníacas e fulas. Na cidade, todas as ruas são picadeiros para mostrar a camisa branca ou o vestido colorido. E o Monumento ao Esforço da Raça, inspirado na art déco e que fica mesmo em frente ao Palácio Presidencial, é local de eleição para namorar quando não há luar.
Quase tudo é decadente. Os prédios, as ruas, a limpeza, os carros, os táxis, as lojas. Tudo menos as pessoas. Orgulhosos do que é seu, do que têm e não têm.
A Guiné-Bissau é um país sempre em convulsões. Desde o dia 12 de Agosto que não tem Governo. Voltou a faltar a luz. A escola ainda não começou. As poucas obras públicas pararam. O dinheiro falta e os funcionários públicos podem não receber o salário. Mas enquanto as cúpulas discutem o futuro do Governo e da nação, os guineenses constroem um dia de cada vez.