O edifício AXA no Porto vai deixar de receber cultura, mas isso não tem de ser mau
Balleteatro, que estava instalado no edifício da Avenida dos Aliados, vai passar a ser companhia residente do Coliseu do Porto
“O edifício estava cedido à câmara em condições muito específicas. Aquele projecto nasceu porque se pensou: já que está ali um edifício abandonado, que deixem a câmara usá-lo para fins culturais”, disse ao PÚBLICO o assessor de imprensa da autarquia. Nuno Santos afirma, por isso, que a mudança que agora ocorre “está dentro daquilo que era a própria filosofia do projecto” e que o facto de ter sido, aparentemente, encontrado um fim mais permanente para o edifício é “uma coisa boa”. “É a reabilitação da cidade”, diz.
As actividades culturais chegaram ao AXA em Abril de 2013, durante o último mandato de Rui Rio, e no âmbito do projecto 1.ª Avenida, co-financiado por fundos comunitários. O 1.ª Avenida, que se iniciara em Outubro de 2012 num outro edifício devoluto dos Aliados, na posse do Montepio, deveria terminar no final de Dezembro de 2013, mas um mês antes, Rui Moreira, recém-chegado à câmara, anunciou a assinatura do protocolo que permitiria estender a parceria entre o município e a AXA por mais um ano. Já este ano, através da empresa municipal Porto Lazer, foi assinado um “aditamento” ao protocolo de apoio mecenático, que permitia manter a actividade cultural no edifício até 31 de Dezembro.
A AXA decidiu, contudo, colocar o prédio à venda e a actividade cultural vai deixar o edifício dos Aliados antes do previsto. A perspectiva é que, à semelhança de tantos outros imóveis do centro da cidade, o local venha a receber um hotel. Contactada pelo PÚBLICO, a seguradora confirmou que “o edifício se encontra em processo de venda sendo, por isso, prematuro prestar esclarecimentos concretos sobre o futuro do mesmo.”
Nuno Santos explica que “é preciso esvaziar” o edifício, antes de o devolver aos donos e que, por isso, a partir de Outubro já não haverá qualquer actividade cultural no AXA. A mesma fonte garante que as actividades que ali decorriam – desde o teatro, à dança, passando pela música ou pela fotografia – vão continuar “só que num local ou locais diferentes”. O adjunto de Rui Moreira não põe de parte que uma experiência idêntica possa ser feita, noutro edifício devoluto da cidade, mas admite que essa é apenas uma hipótese entre outras, para o acolhimento das actividades que “não caberiam numa sala normal”.
Balleteatro no Coliseu
Quem já abandonou o AXA e se prepara, esta quarta-feira, para apresentar a sua nova casa é o Balleteatro. A escola profissional passa a ser a companhia residente do Coliseu do Porto, que procura, assim, continuar a anunciada política de abertura à cidade. Né Barros, do Balleteatro, diz que a parceria com o Coliseu resulta de “uma conciliação de projectos, interesses e sinergias entre as duas estruturas”. Para a escola é também uma oportunidade de voltar a ter um espaço permanente, uma vez que a instalação no AXA estava, desde o início, condicionada pela renovação do protocolo anual entre a câmara e os proprietários do prédio.
Agora, o Balleteatro sabe que poderá ficar no Coliseu “pelo menos, durante cinco anos”, mas a expectativa é que esse prazo seja estendido no tempo. “Para o Balleteatro, tornar-se estrutura residente e habitar o Coliseu vai permitir descobrir e explorar os outros espaços, para lá da grande sala de espectáculos, dando a conhecer os diferentes locais que o próprio Coliseu compreende”, diz Né Barros.
A residência artística no Coliseu é inaugurada, esta quarta-feira, com um conjunto de performances que começam às 19h e se vão prolongar durante cerca de uma hora e meia e em loop, ocupando diferentes espaços da casa de espectáculos e também a rua. No palco principal estará “Bevy versus”, de Flávio Rodrigues (dança), enquanto na Sala Jardim há teatro dirigido por Isabel Barros e Teresa Lima, com “Histórias entre o Céu e a Terra a partir de textos de Tonino Guerra”. A dança passa ainda pelo hall do Coliseu, com “Contos”, dirigidos por Elisabete Magalhães, e continua nos corredores, com “Ocupação”, dirigida por Sónia Cunha e Jorge Queijo. O Salão Azul recebe “Uma versão d’amor”, peça dirigida por Manuel Tur e na rua há batucada para animar quem passa.
O porta-voz do Coliseu congratula-se com o facto de a casa de espectáculos passar, agora, a acolher uma forte vertente de formação artística, “uma área que não estava muito presente”. O Balleteatro conta ter, neste ano lectivo, cerca de 150 estudantes, distribuídos pela escola profissional e pelo serviço educativo. De momento, estão já abertas as inscrições para as aulas do serviço educativo que irão decorrer já no Coliseu, bem como para a Oficina de Dramaturgia por Renata Portas, que irá decorrer a 9 e 10 de Outubro.