Começa o Amplifest, um festival de risco, peso e descoberta
Neste fim-de-semana vão passar pelo Hard Club, no Porto, nomes como William Basinski, Converge, Amenra e Metz. O evento organizado pela Amplificasom traz público de países como a Turquia, Rússia e França.
A quinta edição do Amplifest acontece este sábado e domingo no Hard Club, no Porto, e tanto há espaço para ruído, peso e música extrema, como para música ambiental ou electrónica, para introspecção e silêncio.
“Ou aceitas o desafio e a provocação ou vais passar um mau bocado”, diz André Mendes, que juntamente com Ângelo Tibério de Carvalho forma a Amplificasom, promotora responsável pelo festival. Para os organizadores, este eclectismo é o seu maior trunfo. “O Amplifest tem esse lado pedagógico, essa vontade de abrir horizontes.”
Apesar de não haver filiações rígidas a géneros, esta diversidade é controlada. Há uma coerência, uma ideia de programação. Cada banda ou artista faz, à sua maneira, música com o negrume e o peso dos dias. Música que filtra neuroses e procura a catarse, mas sem ser escapista. Música que desafia convenções, com veia exploratória.
“Se fizéssemos isto só para vender não havia esta dose de risco e de desafio”, refere André. Uma filosofia refrescante, já que boa parte dos festivais portugueses (e não só) obedecem cada vez mais a um modelo comercial, em que escasseia a surpresa e o risco, a possibilidade de descobrir bandas de que nunca se ouviu falar.
Na verdade, é difícil chamar festival ao Amplifest. Não há marcas e respectivas acções promocionais, que têm ajudado a tornar os festivais num parque de diversões com música. Não há sobreposições de concertos, contrariando-se o consumo rápido e muitas vezes fragmentado. E apesar de haver nomes mais conhecidos do que outros, as bandas aparecem nos cartazes por ordem alfabética e com o mesmo destaque gráfico. “Tudo é importante. É para viver a experiência por completo”, assinala André Mendes. E isso inclui também exposições, conversas, cinema e até a leitura de um conto de Jorge Luis Borges.
Não conseguem apoios, e isso impede-os de ter lucros. Mas não perdem dinheiro, graças à venda de bilhetes e a uma gestão rigorosa. Nesta equação é essencial o sucesso junto do público estrangeiro: nesta edição, 40% dos bilhetes vendidos foram para países como a Turquia, Rússia, França e Alemanha.
Há razões para isso. É uma oportunidade única para ver os Altar of Plagues (este sábado), que vão fechar actividade, e os Amenra (domingo), que vão deixar de dar concertos. São dois dos grandes inovadores do metal: abriram-no a outros géneros, como a música experimental e o pós-rock, rejeitando posturas misóginas, homofóbicas e varonis, tantas vezes associadas a este tipo de música.
Hoje encontraremos também William Basinski, compositor fulcral da música ambiental e experimental deste século, autor da obra-prima The Disintegration Loops; os Converge, banda de culto do hardcore, cujos concertos-furacão são uma prova de resistência física; WIFE, projecto de James Kelly, dos Altar of Plagues, que faz a transição do black metal para electrónica de matriz pós-dubstep; e Filho da Mãe, exímio guitarrista português.
Amanhã haverá, entre outros, os Metz, trio de noise-punk da editora Sub Pop, Stephen O’Malley, dos incontornáveis Sunn O))), e Gnaw Their Tongues, que orquestra horrores com ambiências do black metal, do noise, da música industrial e de compositores de música contemporânea e avant-garde como Luciano Berio e György Ligeti.
Os bilhetes diários para o Amplifest custam 39€ e o passe para os dois dias 59€.