O “corredor fun” que tem best-seller nacional
José Soares fala do sucesso de ‘Running . Muito mais do que correr’ que domina o top 10 de vendas em Portugal.
Running. Muito mais do que correr, da autoria do Professor José Soares, catedrático da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADE-UP) e fisiologista, esteve por seis semanas consecutivas no top 5 de vendas de todas as livrarias nacionais, mantendo-se na lista dos dez livros mais procurados, desde que foi lançado a 16 de Julho.
“A publicação do livro surgiu de um desafio da editora [Porto Editora] que me propôs uma obra sobre corrida que incluísse informação geral que normalmente está dispersa. Por exemplo, neste livro abordo questões que interessam não só a iniciados como também a pessoas que querem melhorar o seu desempenho. Por isso, inclui capítulos sobre saúde (exames médicos, por exemplo), alimentação, suplementos, prevenção de lesões, corrida para determinados tipos de patologia (hipertensão, diabetes, osteoporose, cancro, etc.). Finalizo com uma parte de respostas às perguntas mais frequentes que me fazem nas consultas, nas redes sociais ou nos blogues. Por exemplo, o que é a “dor de burro”, o que é uma cãibra, como sei que estou desidratado, o que devo comer antes de correr, etc.”, explicou José Soares em conversa com o Público Running.
O livro serve como um guia que pode ser requisitado sempre que o leitor tiver uma dúvida sobre esta modalidade desportiva. Até perante as actuais alegações de doping generalizado no atletismo de alta competição, numa altura em que o negócio de substâncias e suplementos desportivos aumenta de dia para dia, o mesmo pode ser esclarecedor. Neste tema, o autor segue as recomendações do Instituto Australiano do Desporto, expondo os suplementos em diferentes grupos: grupo A – suplementos que aumentam a performance e que não têm contra-indicações; Grupo B – suplementos que não está demonstrado que melhorem a performance mas que os atletas relatam efeitos positivos e não têm efeitos negativos na saúde; Grupo C – Suplementos que não têm qualquer efeito na performance e que podem ser prejudiciais; Grupo D – Suplementos inscritos nas listas doping. “Ou seja, se os atletas seguirem estas indicações e optarem por marcas reconhecidas em termos de qualidade, poderão sentir-se seguros.”
Utilizando a corrida como meio de promoção da saúde, o professor do FADE-UP afirma que “o exercício devia ser encarado como um medicamento, pois tem um papel decisivo não só na prevenção mas também como coadjuvante terapêutico em numerosas doenças. No livro falo sobre os efeitos na prevenção mas relevo o papel que pode ter em pessoas já doentes. Por exemplo, sabe-se que, sob supervisão médica, a corrida e o exercício em geral têm um papel determinante em doenças que estão associadas à perda da massa muscular, à disfunção muscular ou à diminuição da capacidade cardiorrespiratória. Tenho já alguma experiência profissional sobre este tema e posso garantir que os efeitos do exercício em alguns tipos de doentes são verdadeiramente espectaculares. Ou seja, o exercício em geral, e a corrida em particular, deve ser visto não apenas na área da prevenção mas também quando a doença está já instalada.”
Com a 2ª edição quase a chegar às livrarias, o autor enalteceu o processo fantástico que lhe tem enchido de orgulho, a que se junta o carácter altamente positivo e estimulante dos comentários ao livro. “Aqui a Porto Editora tem tido um papel essencial ao ajudar na divulgação e no apoio permanente que me tem dado. Os feedbacks que tenho recebido têm sido excelentes, seja nas redes sociais, seja em blogues ou pessoalmente, os inputs que tenho recebido não poderiam ser melhores.”
Por detrás de todo este êxito, Soares sempre foi uma pessoa activa e praticante assíduo de desporto. Andebolista até perto dos 30 anos, depois de ter terminado a sua vida de desportista sentiu uma necessidade de se manter activo fisicamente. “Os ginásios sempre foram uma boa opção em paralelo com o ténis. No entanto, estas actividades nem sempre se coadunavam com as minhas tarefas profissionais. A corrida surgiu, assim, como algo que poderia realizar depois de chegar a casa, à hora do almoço, ao fim de semana ou em qualquer momento livre. Ou seja, a corrida preenchia a minha necessidade de exercício com um grau de exigência em termos de condições e tempo que se adequava perfeitamente às minhas limitações.” Porém, o autor nunca participou numa prova oficial, em parte devido ‘às marcas’ do seu aparelho osteoarticular, deixadas pelo andebol. “Prefiro correr em terrenos planos e com bom piso. Corro por puro prazer, sem objectivos de tempo ou distância. Sou o verdadeiro corredor “fun”, rematou.
Quatro livros, cerca de 70 artigos científicos em revistas internacionais peer reviewed, convidado em mais de 200 conferências científicas nacionais e internacionais, o ensino e ainda a corrida preenchem a agenda de José Soares. Com tantas pessoas a reclamarem por falta de tempo para a prática de exercício físico, ele é um exemplo de que é possível conciliar tudo. “A corrida é a minha terapia. Corro quando me apetece, quando posso e quando sinto prazer. Não sou um ‘runner profissional’. Neste sentido, a corrida é um meio e não um fim na minha vida. E como é uma forma simples, pouco exigente e adaptada a todas as circunstâncias, corro sempre que posso e, acima de tudo, quando me apetece.”
Quando questionado pelo Público Running sobre o que falta fazer pelo Running em Portugal, o autor acredita que “não são as condições materiais que fazem um desporto. São as pessoas. E, nesse sentido, todo o investimento deverá ser nos corredores e não tanto nas condições. De todo o modo, penso que percursos marcados, protegidos dos automobilistas (por exemplo, fechar ruas das cidades aos finais de semana…) e pontos de disponibilização de água poderiam ser boas ajudas.”
A terminar, José Soares chama a atenção para as pessoas que gostariam de começar a correr mas ficam receosas de poderem ter, por exemplo, um ataque cardíaco quando correm. “Pior do que o exercício é não fazer exercício”. Expressão recorrente no livro, o autor aponta para o sedentarismo como principal causa de morte precoce. “Por isso digo que, maior risco do que fazer exercício é não o fazer. Isso sim, é um modo arriscado de viver”.
Um novo livro está pensado, embora o Professor não queira ainda divulgar o tema. Entretanto, continuará a propagar a papel do exercício, com ou sem corrida, na promoção da saúde em cima de tudo, na ajuda a pessoas que querem melhorar a sua qualidade de vida.