Eatwell, um serviço de mesa para ajudar doentes com Alzheimer

Inspirada na doença da avó, designer tailandesa criou um serviço que facilita a vida de pacientes mas também de cuidadores. Depois de uma campanha de "crowdfunding" que financiou o desenvolvimento do produto, o EatWell já pode ser adquirido

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Foi um novo mundo aquele que se abriu à frente de Sha Yao quando a jovem descobriu a doença da avó. Alzheimer — uma enfermidade degenerativa, progressiva, irreversível. Assustadora. Sha Yao, a principal cuidadora da avó, tornou-se voluntária num centro de apoio a idosos com demência para dar a volta ao texto: queria perceber melhor a doença, entrar na cabeça de quem a tem, queria fazer mais pela avó e outros pacientes como ela. O Eatwell — serviço de pratos, copos e talheres — é uma tentativa de tornar mais simples o momento das refeições — algo que, percebeu a designer tailandesa, pode transformar-se numa verdadeira dor de cabeça para pacientes e cuidadores.

Sha Yao apercebeu-se do fenómeno no contacto diário que tinha com a avó e outros doentes: a refeição transformava-se frequentemente num momento de tensão para os cuidadores e de enorme frustração para os pacientes, que não se sentindo capazes de comer sozinhos muitas vezes desistiam de se alimentar e viam o estado de saúde piorar por causa disso. O serviço Eatwell foi desenhado com formas e materiais que diminuem as quedas e melhoram a experiência do doente ao mesmo tempo que facilitam a vida dos cuidadores.

Os pratos e copos têm uma base inclinada que permite que líquidos e semi-sólidos se concentrem mais num dos lados, facilitando o acto de comer, a curvatura das colheres foi desenhada a pensar no formato dos pratos e os talheres são curvos, para que encaixem melhor na mão do paciente. Todos os objectos têm um reforço na parte inferior para evitar que sejam derrubados facilmente e o “kit” tem ainda um tabuleiro com um mecanismo para prender guardanapos e babetes.

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O Eatwell foi concebido com três cores primárias — amarelo, vermelho e azul — e, apesar do ar infantil, nada foi feito ao acaso. Sha Yao optou por este design depois de conhecer um estudo de investigadores da Universidade de Boston que concluiu que pessoas com Alzheimer podem consumir até 24% mais alimentos e 84% mais líquidos se forem servidos em recipientes coloridos.

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A criação da tailandesa já arrecadou o prémio Stanford Design Challenge 2014 e um gigante apoio através de uma campanha de “crowdfunding” que arrecadou 92 mil dólares (aproximadamente 79.890 euros). “O feedback de quem tem testado, cuidadores e especialistas na doença e no tratamento de idosos tem sido esmagadora e universalmente positivo”, disse ao Fast Company Sha Yao, que dedica esta criação à avó, que entretanto faleceu. Depois da campanha no Indiegogo e de alguns anos de investigação, o "kit" pode ser adquirido, com preços que arrancam nos 60 dólares (cerca de 52 euros), por um conjunto de quatro peças.

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Em Portugal, existirão cerca de 182 mil pessoas com demência, representando a doença de Alzheimer cerca de 50% a 70% de todos os casos. Mas, defende a tailandesa, este tipo de serviços devem ser pensados por todos os designers, mesmo que não tenham uma ligação a esta temática: "As pessoas vivem mais tempo, em média, e as populações estão a envelhecer em todo o mundo. Espera-se que o número de pessoas com Alzheimer ou outras formas de demência aumentem dramaticamente ao longo das próximas décadas e fornecer alimento e nutrição suficiente para essas e outras deficiências vai se tornar uma preocupação crítica.”

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