cartas à directora 22/08
Já nem lhe chamam “emigrantes”
Centenas de milhares de refugiados, vindos sobretudo do continente africano, têm encontrado como destino a morte no mar Mediterrâneo. Aventuram-se, pela mão de associações criminosas de tráfego humano que os deixam entregues à sua sorte em “cascas de nozes” no alto mar. Ao invés, os senhores de Bruxelas, bem comidos e vestidos e melhor remunerados, pouco fazem para minorar as mortes diárias. Na Europa, que nos fizeram crer de génese solidária, o reacionário e musculado David Cameron pranta milhares de polícias atrás dum alto e extenso arame farpado, para obstar a entrada dos já assèticamente chamados «migrantes». O executivo húngaro, de extrema-direita, levanta na linha de fronteira com a Sérvia, uma vedação com 175 Km(!) e quatro metros de altura, para travar o fluxo de homens, mulheres, crianças e famílias inteiras vindas do Afeganistão, Iraque, Paquistão ou Síria. Todos eles fogem da fome, da guerra, do fundamentalismo religioso e da morte! A Europa, dita do primeiro mundo, com a sua hierarquia bem instalada e com fraca consciência, revela falta de humanidade. Quantas mais centenas de milhares de seres humanos serão precisos morrer?!
Vítor Colaço Santos, S. João das Lampas
Duzentos e sete
Duzentos e sete. E sete, note-se. Ou seja, não prevê duzentos e seis, não prevê duzentos e oito. São duzentos E SETE. É assim, foi estudado, é científico, é matemático, é exato. O PS fez as contas e um efeito das suas políticas vai ser a criação de duzentos, e sete, mil postos de trabalho.
Ora note-se que as suas próprias estimativas tiveram algumas variações entre a projeção inicial e a atual; a previsão de défice subiu quatro décimas a do desemprego subiu duas, devido a alterações das medidas propostas. O que está muito bem, alterações nas medidas causam alterações nas previsões, nada de mal nisso. Agora digam-me lá, se as propostas, e seu efeitos, do PS mudam no espaço de meses, como é que o PS pode assumir conhecimento completo das medidas para quatro anos anos, na Espanha, na Alemanha, e na União Europeia (UE) em geral, e na China, na Rússia, no Brasil, nos Estados Unidos, em Angola, mundo fora?
Portugal é um sistema aberto ao exterior, no entanto não vão existir quaisquer variações no mundo em quatro anos? Alguém acredita nisso?
Então, como é que vêm falar em duzentos E SETE? Se me dessem um intervalo largo, algo como entre cento e sessenta e duzentos e vinte mil, poderia ser credível, assim não é.
Ricardo André,Lousa, Loures
O preso político
Será legitimo dizer que um ex-PM, que se demitiu há mais de três aos, que saiu do País para estudar em França, que está detido num processo de averiguações, seja considerado preso político? É verdade que pensamos não ser justo manter preso um cidadão por mais de nove meses, sem acusação formada, mas no caso de José Sócrates, pese a sua facilidade oratória, pese o facto de ter sido ex-PM, pese ter muitos apoiantes e muitos contras, pese ser uma figura polémica, será também legítimo que da prisão, envie e tenha acesso e publicação nos media, comunicações escritas, defendendo-se e atacando tudo e todos, dum modo a que outros detidos nas mesmas circunstâncias não têm nos meios de comunicação social, como este detido? Não cabe a nós, cidadãos, julgarmos seja quem for, mas diz o povo: não há fumo sem fogo, e, pelo que nos é mostrado em alguns órgãos da comunicação social, há muitos fogos que é preciso apagar.
Duarte Dias da Silva, Lisboa