A habilidade política de Alexis Tsipras
A eleição antecipada será apenas uma paragem estratégica para deixar sair os contestatários
O primeiro-ministro grego vai ser um caso de estudo nas aulas de ciências políticas. Conseguiu a proeza de se candidatar a umas eleições com um programa radical anti-austeridade, ser eleito, fazer aprovar no Parlamento uma batelada de medidas de austeridade contrárias às que sempre defendeu, e continuar com os níveis de popularidade em alta. Isto num país que está mergulhado numa profunda recessão e onde as pessoas nem sequer conseguem movimentar livremente o dinheiro que têm nos bancos.
Alexis Tsipras não só consegue manter os níveis de popularidade em alta, como já aparece destacado nas sondagens. Porquê? Porque os gregos sentiram que durante sete meses tiveram alguém que estava disposto a quase tudo para defender os seus interesses e tentar desmontar a teoria da austeridade punitiva, menos provocar a saída da Grécia da zona euro. Este esticar de corda ao máximo nas negociações, e a travagem brusca na 25ª hora, foi uma estratégia que os gregos compreenderam e valorizam.
É com este conforto que o líder do Syriza resolve demitir-se e precipitar eleições antecipadas, o que lhe permite duas coisas. Por um lado, ganhar nova legitimidade perante aqueles que o elegeram e que há sete meses votaram num programa eleitoral diametralmente oposto ao actual programa de governo. E, por outro lado, desfazer-se dos 40 deputados dissidentes do Syriza que não lhe deram o respaldo aquando da aprovação do resgate.
As eleições antecipadas em Setembro, não sendo uma estratégia isenta de risco para o Syriza e para a Grécia, vão permitir a Tsipras capitalizar a popularidade antes que as novas medidas de austeridade cheguem com força aos bolsos dos gregos. E já se percebeu no discurso de demissão que Tsipras irá habilmente usar a questão da renegociação da dívida, agendada para Outubro, como uma arma eleitoral para garantir a mais do que provável reeleição.