Wes Anderson, o mundo onde queremos viver

Porque é que uma rapariga anda de barbatanas e gorro vermelho em pleno Verão, na rua 28, em Manhattan? Durante quatro dias Nova Iorque foi mesmo a cidade dos Tenenbaums.

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A exposição Bad Dads (um título que é uma alusão a todos os “problemas com o pai” vividos por muitas das personagens de Wes Anderson) começou há seis anos em São Francisco DR

A sensação é a de entrar num quarto indie, onde só se ouve a banda-sonora dos filmes do realizador de The Life Aquatic With Steve Zissou e de The Grand Budapest Hotel. Ali podemos reencontrar não só as personagens mais emblemáticas da sua obra, em pinturas a óleo, mas também uma colecção de merchandise pronta a levar para casa, que inclui sacos de pano, pins e baralhos de cartas. Bad Dads VI veio de São Francisco, pela mão da Spoke Art Gallery para ser recebida pela Joseph Gross Gallery.

Alguns turistas que se dirigem para o popular parque High Line, que atravessa parte do lado Oeste da cidade, mesmo estando numa das zonas mais vibrantes de Manhattan, questionarão o porquê de uma rapariga andar de barbatanas e gorro vermelho em pleno verão, na rua 28. Mas no segundo andar do número 548 W, entramos num universo paralelo.

Bad Dads (um título que é uma alusão a todos os “problemas com o pai” vividos por muitas das personagens de Wes) começou há 6 anos em São Francisco, quando Ken Harman, director da Spoke Art Gallery, decidiu criar uma mostra dedicada a um dos seus realizadores preferidos. Esta é a primeira vez que a traz à costa Leste dos Estados Unidos. Jessica Ross, Assistente de Harman, fala-nos sobre esse início: “O Ken começou este tributo ao Wes, que foi crescendo e se tornou numa importante forma de expressão da nossa galeria. Depois de cinco anos a fazê-lo na baixa de São Francisco, achámos que era importante trazê-lo para os fãs deste lado.”

Nova Iorque é não só onde Anderson vive, mas também a cidade que serviu de cenário em The Royal Tenenbaums. Para o pop-art show deste ano escolheram 70 artistas, muitos americanos, mas também de Itália, Rússia, Polónia e Inglaterra. “Seleccionámos primeiro os artistas que iríamos comissionar, para que depois escolhessem um filme (curta ou longa metragem) ou mesmo um anúncio realizado por Wes. Eles podiam pegar em cenas, personagens ou ambientes.”

O resultado são 100 obras distribuídas por duas salas, desde gravuras com edições limitadas, a esculturas de papel feitas em cassetes VHS (Charles Clary), passando por mini-malas de viagem inspiradas em Darjeeling Limited, assinadas pela perita em miniatura Jayde Fish, e até um par de ténis Adidas Team Zissou pintados à mão. As obras da mostra estavam à venda por valores que iam dos 50 aos 2500 dólares durante os três dias em que a exposição esteve aberta ao público. As restantes podem agora ser compradas online.

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Entre uma pintura do imaginário Wes Anderson Theme Park e uma réplica em miniatura da recepção do Grand Budapest Hotel, fãs conversam sobre os seus filmes preferidos. Tom Vogt acabou de adquirir três pinturas: Peter, Francis e Jack Whitman. Não tinha planeado comprar nada, aliás esta é a primeira vez que investe numa obra numa galeria, mas havia algo no tríptico que ecoou no fanatismo de Tom. “Gosto realmente da peça e o preço era razoável (425 dólares cada), além disso a vibe que me transmite, e o facto de ser sobre irmãos, há algo nessa relação que me cativa” - Peter (Adrien Brody), Francis (Owen Wilson) e Jack (Jason Schwartzman) eram os irmãos de Darjeeling Limited. Acabou por comprar também The Rat, de Crowded Teeth, que para surpresa do curador ainda estava disponível no sábado à tarde. Tom Vogt é ele próprio um cineasta, conhecido por ter montado a série South Park, e conta que foi a terceira opção para montar Fantastic Mr. Fox. Não esconde o sonho de trabalhar num filme de Anderson. Foi isso que aconteceu com Rich Pelegrino, um dos artistas que participou em Bad Dads em São Francisco e que Anderson contactou para que criasse uma obra  para The Grand Budapest Hotel, onde as pinturas fazem parte da narrativa do filme. Pelegrino criou Two Lesbians Masturbating.

Em 2012, a propósito da exposição, Wes disse que era emocionante ver algo inspirado no seu trabalho. De qualquer forma, mesmo que os artistas desta vez se pudessem inspirar nas oito longas-metragens assinadas pelo realizador ou no seu restante trabalho em publicidade e curtas, Steve Zissou parece ter ganho um lugar de eleição, criando alguma repetição na exposição. Harman já teria dito que nunca podemos ter o suficiente de Bill Murray.

Voltar a um certo conforto
Mas o que é que leva um artista a inspirar-se em Wes Anderson? Para Jessica Ross, esse universo é muito propício à interpretação artística: a facilidade em trazer os personagens, cenários ou mesmo cores para um trabalho de um artista visual. “Há uma sinceridade neste universo, uma vibração jovem e ao mesmo tempo cada personagem tem um lugar profundo na história; além disso são incrivelmente bonitas, bem construídas, consegue tirar delas muita coisa. Este universo ressoa para artistas e criativos, é o mundo onde todos queremos viver, tirando toda a disfunção claro, mas deixando a melancolia”.

Ali, entre cores pastel e raposas de Fantastic Mr. Fox, sentimo-nos seguidos pelo olhar de Margot Tenembaum. Entrar no mundo de Anderson é voltar a um certo conforto, há um desejo em habitar as suas criações. É por isso que não nos surpreende a etiqueta da pequena mala vermelha de Fish, onde se pode ler “I always wanted to be a Tenenbaum”, revelando devoção e um certo nível de obsessão; ou mesmo o à vontade com que Olivia Wilcox, que visitou a exposição vestida como Sam de Moonrise Kingdom, nos diz que essa melancolia versus humor faz parte das nossas vidas. Confessa que não viu todos os filmes de Wes, mas que o considera um “símbolo do cinema” - “na verdade, se apenas lêssemos o guião dos seus filmes, tínhamos toda essa tristeza, mas Wes consegue fazê-los com humor e acho que é por isso que todos o adoram. O meu professor de Inglês queria dar uma aula de cinema focada apenas nos filmes de Anderson, porque ele é um génio.”

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Das 100 obras que acaba de ver na galeria fica com a ideia de que o mais interessante é ter as diferentes interpretações de uma mesma cena ou personagem, essa amplitude da leitura - “o tema é este universo cinematográfico, mas a forma como cada artista o traduz numa obra de arte pode ser mais dramática e obscura ou mais leve e cartoonesca”. Para Jamie Learner, a amiga que descobriu o evento no facebook, “é interessante ver as cores e como tudo sobressai, mas ao mesmo tempo a tristeza. Acho que são as cores que nos transmitem o humor que põe nos filmes.”

É fácil perceber a popularidade de um acontecimento como este. E tendo decorriso apenas num fim-de-semana, explica as 60 mil respostas ao evento criado nas redes sociais umas semanas antes. Jessica Ross diz que esta foi a primeira vez que teve este tipo de resposta para Bad Dads, que normalmente acontece em Outubro, durante o Halloween. “Tivemos de limitar os bilhetes a 2000 por dia, num espaço que só poderia receber 200 pessoas de cada vez”, explica. Esta há-de ser uma experiência a repetir e até talvez a ser replicada na Europa, para que os fãs europeus lhe possam prestar homenagem. Sentados, como numa cena de Moonrise Kingdom, Sam e Suzy bebem cerveja, envoltos em possíveis versões de posters dos filmes, enquanto esperam que Wes Anderson crie uma nova história.

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