BCE volta a aumentar a linha de crédito aos bancos gregos
Empréstimo de emergência aos bancos gregos irá ser reforçado em 900 milhões de euros ao longo de uma semana, criando a expectativa de que as instituições financeiras possam voltar a abrir brevemente.
O presidente do Banco Central Europeu (BCE) dá assim um passo decisivo para aliviar os problemas de liquidez que forçaram as autoridades gregas a fechar os bancos e a impor controlos de capital.
Durante as últimas semanas, o BCE tinha deixado de aceder aos pedidos do banco central grego para um aumento da Assistência de Liquidez de Emergência (ELA na sigla em inglês), que ficou congelada nos 89 mil milhões de euros a partir do momento em que o Governo grego anunciou a realização de um referendo para decidir sobre a proposta de acordo feita pela troika. A partir daí, os bancos tiveram de fechar e cada cliente passou a poder levantar apenas um máximo de 60 euros por dia através de caixas automáticas.
Agora, depois do acordo a que se chegou na segunda-feira no final da cimeira do euro e no dia seguinte à aprovação pelo parlamento grego das primeiras medidas exigidas no acordo, o BCE considera que já é possível responder ao agravamento das necessidades de financiamento da banca grega.
Importante para a decisão do BCE, foi, além do voto favorável no parlamento grego na quarta-feira à noite, também o facto de o Eurogrupo ter encontrado uma solução para um empréstimo de transição ao Estado grego, o que conseguirá evitar que a Grécia entre em incumprimento face ao BCE na segunda-feira, a data para a qual está agendada uma amortização de obrigações gregas (que estão nas mãos do BCE) no valor de 3500 milhões de euros.
“As coisas mudaram agora. Tivemos uma série de notícias, com a aprovação do empréstimo, com os votos em vários parlamentos, que restauraram agora as condições para uma subida da ELA”, afirmou Mario Draghi.
Bancos reabrem em breve
Para já, a Grécia continua sem conseguir aceder às linhas de financiamento normais para os seus bancos, nem a beneficiar do programa de compra de obrigações (de 60 mil milhões de euros ao mês) que o BCE está a implementar em todos os países da zona euro, excepto a Grécia. Draghi assinalou, contudo, que perante uma boa execução do programa grego, também aqui, a situação pode vir a ser brevemente normalizada.
“Se as coisas continuarem a processar-se da forma positiva, tal como nos dois últimos dias, teremos uma fase durante a qual o Banco da Grécia e o BCE irão olhar a quais são exactamente as necessidades da economia grega e como é que elas podem ser gradualmente satisfeitas”, afirmou.
O presidente do BCE não se quis arriscar a dizer quando é que os bancos gregos poderão voltar a abrir ou quando serão retirados os controlos de capital. Afirmou apenas que o pedido feito pelo banco central grego foi aceite por inteiro, embora o aumento de 900 milhões seja feito progressivamente, ao longo de uma semana. De acordo com a Reuters, a expectativa entre os bancos gregos é que a reabertura possa acontecer já na próxima segunda-feira.
Em relação aos controlos de capital, o regresso à normalidade não será certamente tão rápido. “É difícil de prever. É claramente do interesse da economia grega que estes controlos de capital durem o menor período de tempo possível, mas temos de fazer isto de uma forma em que não tenhamos o risco oposto, nomeadamente um corrida aos depósitos”, afirmou Mario Draghi na conferência de imprensa.
Divergências com a Alemanha
Apesar da prudência habitualmente usada nas suas intervenções públicas, Mario Draghi veio ainda reforçar esta quinta-feira a ideia de que, nesta fase, existe uma divergência de pontos de vista em vários temas entre o presidente do BCE e as autoridades da maior economia da zona euro.
Depois da discussão com Wolfgang Schäuble no Eurogrupo do passado sábado que foi relatada por alguns meios de comunicação social, Draghi fez questão de dizer que assume que a Grécia se irá manter na zona euro, um cenário que o ministro alemão das Finanças não considera ser o mais positivo na actual conjuntura. “O BCE actuou dentro daquilo que é o seu mandato e continuará a fazer o mesmo no pressuposto de que a Grécia irá continuar a ser um membro da zona euro”, afirmou o italiano, assinalando também que tal é “uma responsabilidade tanto do governo grego como dos outros estados membros”.
Ainda assim, Draghi defendeu que o simples facto de se ter discutido uma saída temporária da Grécia (o cenário defendido pela Alemanha), “não significa necessariamente” que a união monetária fique enfraquecida. “O que as discussões mostram é que esta união é imperfeita”, avisou.
Mario Draghi deixou ainda implícito que a decisão de aumentar a ELA disponibilizada aos bancos grego não foi unânime no conselho de governadores do BCE, ao afirmar, quando questionado sobre o assunto, que apenas é necessária uma maioria de dois terços para fazer passar este tipo de medidas. O representante do banco central alemão no conselho do BCE, Jens Weidmann, tem sido dos mais críticos em relação ao nível de exposição que o BCE está a assumir perante o sistema financeiro grego.
Mario Draghi defendeu ainda “é incontroverso que um alívio de dívida [para a Grécia] é necessário”. “A questão é saber qual a melhor forma de alívio da dívida dentro do nosso enquadramento legal e institucional”, disse.