A respiração interior de Thundercat

Baixo, voz e um edifício sónico que nos fazem acreditar na soul com jazz dentro.

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No seu novo álbum, Thundercat imerge num clima mais misterioso, mas volta a conviver com o fantasma da morte

Trata-se do terceiro disco do americano Stephen Bruner, ou seja Thundercat, depois de um errante primeiro álbum (The Golden Age Of Apocalypse, de 2011) onde mostrava ser um virtuoso do baixo e de um segundo (Apocalypse, de 2012) onde ia mais além, numa obra de funk cósmico de grande consistência emocional. 

Este ano, o baixo eléctrico de Stephen Bruner já deu nas vistas em dois dos mais significativos álbuns de 2015 (Kendrick Lamar e Kamasi Washington, que entrevistamos nesta edição) e agora voltamos a ouvi-lo em nome próprio. O baixista, cantor e compositor mostra-se em baladas marcadas pelo pulsar contido do baixo, pela voz sedosa e pelo balanço rítmico insinuante, misto de soul, jazz e o tal funk cósmico e mutante.

Em relação ao seu passado recente, nota-se que as canções são mais ambientais, texturais e climáticas. São temas que partem de impulsos rítmicos voluptuosos, rodeados de climas algo misteriosos, em deambulações soul-jazz que, como já acontecia no álbum anterior, convivem de perto com o fantasma da morte. 

Os cúmplices Flying Lotus e Kamasi Washington, e até o histórico Herbie Hancock, retribuem colaborações recentes e o resultado são canções tranquilas com qualquer coisa de abstracto, num itinerário onde existe recomposição de cenários conhecidos mas prevalecem encontros inéditos, resultando daí qualquer coisa de expansivo, cruzamento de sonho e realidade. 

E é isso. No novo mini-álbum de Thundercat há o som singular do seu baixo, e uma voz que respira interioridade, e que nos continua a fazer acreditar na soul com jazz lá dentro.

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