Pelo menos 447 pessoas com deficiência estão em situação vulnerável
GNR lançou no final do ano passado programa especial para detectar pessoas em maior risco de roubo ou fraude.
Ninguém sabe ao certo quantos cidadãos com deficiência moram em Portugal – o Instituto Nacional de Estatística (INE) deixou de trabalhar os dados dessa forma. Tão-pouco quantos passam o dia sozinhos. Nem esse é o objectivo do Programa de Apoio a Pessoas com Deficiência, lançado em Dezembro último.
O major Paulo Poiares, chefe da repartição de programas especiais da GNR, aponta o carácter “evolutivo”. O número de pessoas sinalizadas sobe pouco a pouco, através do trabalho que vai sendo feito pelas equipas da GNR ou por indicação de instituições com quem trabalha em rede.
De acordo com os censos de 2011, à volta de 16% das pessoas entre os 15 e os 65 anos têm dificuldade em realizar alguma actividade básica – andar, subir degraus; levantar e transportar qualquer coisa; ver, mesmo usando óculos; concentrar-se; dobrar-se; ouvir, mesmo usando prótese auditiva; agarrar, segurar ou rodar algo; sentar-se ou levantar-se; compreender ou fazer-se compreender. E tudo piora com a idade. Metade dos maiores de 65 anos tem muita dificuldade ou não consegue realizar uma dessas actividades. A partir dos 75, a percentagem é ainda superior.
Segundo explicou ao PÚBLICO o major Paulo Poiares, o trabalho começa com acções de sensibilização que vão sendo feitas, sobretudo, nas escolas. Só este ano, 3569 pessoas participaram em acções sobre cidadania e discriminação. “Dizemos que não é por uma pessoa ser diferente que deve ser tratada de forma menos respeitável”, diz. “Explicamos que todos nós vamos ganhando deficiências com a idade.” Focam aspectos concretos da vida em comunidade. Chamam a atenção, por exemplo, para a importância das caixas de atendimento prioritárias e dos estacionamentos reservados.
O alerta, feito em jeito de realidade que a todos diz respeito, assume particular importância num país com um perfil demográfico como o de Portugal, onde um quinto de população já ultrapassou a barreira dos 65 anos. Este ano, a GNR detectou 23.996 idosos a viver sozinhos; 5205 isolados; 3288 sozinhos e isolados; 6727 acompanhados, mas com fortes limitações físicas e/ou psicológicas.
O objectivo agora é detectar os deficientes mais vulneráveis, isto é, que moram sozinhos ou que passam grande parte do dia sozinhos e que, por isso, correm maior risco de burla ou roubo. E aconselhá-los, sensibilizá-los para a importância de tomarem algumas medidas de segurança, facilitar o seu contacto com um guarda, entregar-lhes um número de telefone para o qual possam ligar em caso de dúvida ou aflição.
Num email enviado ao PÚBLICO, o major António Ferreira da Cruz, chefe de divisão de comunicação e relações públicas, explicou que o Programa de Apoio a Pessoas com Deficiência passa também por “melhorar o atendimento, o acolhimento e o encaminhamento”, o que inclui preparar os militares para “uma actuação enquadrada, qualificada, próxima, humana e inclusiva”.
Tal como faz com os idosos que detecta através da “Operação Sénior”, a GNR convida os deficientes em situação de vulnerabilidade a aderirem ao programa "Residência Segura". Até agora, aderiram 91. Os militares recolheram os seus dados e inseriram-nos em mapas por região, nos quais "estão georreferenciadas todas as residências, o que permite direccionar de forma mais eficaz os meios humanos e materiais da GNR e aumentar o sentimento de segurança” de idosos e deficientes.
Em declarações à TSF, Ana Sesudo, presidente da Associação Portuguesa de Deficientes (APD), disse não ficar surpreendida com o número de casos assinalados nos primeiros quatro meses. E manifestou a sua preocupação com o encerramento de serviços no interior do país. "Os encerramentos de centros de saúde, encerramentos de juntas de freguesias e transportes públicos muito escassos são situações que nos preocupam muito", comentou esta dirigente associativa.