Kirill Petrenko vai ser o novo maestro da Filarmónica de Berlim
Maestro russo foi o eleito pelos músicos da orquestra alemã para suceder ao inglês Simon Rattle.
“Tenho dificuldade em expressar em palavras os meus sentimentos: a euforia, uma alegria imensa e simultaneamente respeito e medo; vivo tudo isto ao mesmo tempo” – assim reagiu Petrenko à sua eleição, num comunicado citado pela AFP. “Mas prometo mobilizar todas as minhas forças para ser um maestro digno desta orquestra excepcional, e estou consciente da minha responsabilidade e das altas expectativas que são depositadas em mim”, acrescentou o maestro russo.
A OFB, uma das mais prestigiadas orquestras em todo o mundo, é uma instituição em que são os próprios músicos que elegem o seu maestro. Para a substituição do inglês Simon Rattle – cujo actual contrato com a Filarmónica de Berlim vai até Agosto de 2018, mas que, um ano antes, já se sabe que irá também ocupar o cargo de maestro-titular de Orquestra Sinfónica de Londres –, tinha já havido uma primeira reunião no dia 11 de Maio, que durou cerca de 11 horas mas terminou sem uma decisão dos 124 músicos que integram a orquestra, revela a Reuters.
A reunião deste domingo foi já conclusiva, e a eleição de Kirill Petrenko veio, com alguma surpresa – nota a AFP –, deixar para trás outros nomes que surgiam como favoritos neste processo. São os casos do maestro israelo-argentino Daniel Barenboïm, de 72 anos, e do alemão Christian Thielemann, 56 anos, que pareciam estar a polarizar o “duelo” para a chefia da OFB.
Kirill Petrenko, que é visto como “uma personalidade introvertida, mas um trabalhador obstinado e fanaticamente meticuloso, que prepara as suas interpretações de forma profunda e ensaia sem descanso para retirar o melhor dos seus músicos”, como o descreve a AFP, irá assim, a partir de 2018, integrar a prestigiada galeria de uma dezena de maestros associados à história da OFB, fundada em 1882 – entre os quais estão Hans von Bülow (1887-92), Wilhem Furtwängler (1922-34; 1952-54), Herbert von Karajan (1956-89) e Claudio Abbado (1990-2002), além de Simon Rattle.
Nascido em Omsk, no sudoeste da Sibéria, Rússia, em 1972, Kirill Petrenko começou por estudar piano, tendo feito o seu primeiro recital com apenas 11 anos. Aos 18, acompanhou a família na emigração para a Áustria – a mãe era musicóloga, o pai, violinista, fora contratado para a Orquestra Sinfónica de Vorarlberg. Diplomou-se em Piano no Conservatório de Feldkirch, naquela cidade austríaca, e em Direcção de Orquestra na Faculdade de Música e Artes Performativas da Universidade de Viena.
Ainda segundo a biografia traçada pela AFP, Petrenko iniciou a carreira de maestro em 1995, em Vorarlberg, dirigindo a obra Let’s Make an Opera, de Benjamin Britten. Dois anos depois, assume o cargo de mestre-capela da Volsoper em Viena. Em 2001, estreia-se na direcção de Wagner, com a apresentação, durante quatro dias sucessivos, d'O Anel do Nibelungo no Teatro de Meiningen, Alemanha – empresa que chamou sobre si a atenção internacional.
Torna-se, em 2002, maestro da Ópera Cómica de Berlim, onde fica durante cinco anos e a partir da qual estabelece colaborações com instituições musicais de relevo de cidades como Dresden, Barcelona, Londres, Chicago e Amesterdão.
Em 2013, Petrenko retoma o Anel de Wagner no Festival de Bayreuth – produção que, sob a encenação do berlinense Frank Castorf, suscita grande controvérsia. Mas o nome do maestro russo fica registado na cena musical internacional – em 2014, é eleito “Maestro do ano” pela revista alemã Opernwelt (O Mundo da Ópera).
Desde há dois anos, é o director musical da Ópera da Baviera, cargo que certamente irá deixar quando, em 2018, vier a ocupar aquele que é um dos lugares mais apetecidos na cena mundial da música – a direcção da Filarmónica de Berlim.
Petrenko esteve já em Lisboa por duas ocasiões, a dirigir a Orquestra Gulbenkian, em Outubro de 2008 e em Maio de 2012. Nesta última, dirigiu um programa com obras de Wagner e Tchaikovsky.
Notícia actualizada com referência à passagem do maestro russo por Lisboa.