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As teorias sobre a indisciplina

Retomo o interessante artigo de Filinto Lima, publicado neste jornal em 11/6, intitulado Os alunos indisciplinados não gostam de teorias.

Tem toda a razão o autor. Depois de tantas teorias sobre a escola, as mudanças são insignificantes. Recordo o Liceu Pedro Nunes de há 50 anos, onde também havia indisciplina, mas em que o poder e o prestígio da maioria dos professores venciam as dificuldades. A verdade é que estávamos numa escola de elite e os casos sociais mais graves ou os alunos mais problemáticos não chegavam sequer a concluir o ensino primário.

A escola agora é para todos, pouquíssimos serão os jovens que pelo menos não a frequentaram durante algum tempo. Os professores já não são os mestres da minha juventude, em muitos casos procuram cumprir o melhor possível, mas na verdade gostariam de estar bem longe dali. Ao lado de estudantes com genuína vontade de aprender e gosto em continuar a estudar, existem alunos que estão lá por obrigação ou porque não arranjam melhor local para passar os dias. Junto a jovens com grandes capacidades, sobrevivem outros com dificuldades acentuadas, desde problemas de aprendizagem a questões psicossociais complexas, sobretudo familiares.

Filinto Lima defende, com toda a razão, maior envolvimento na educação dos filhos e fala de “fraco comprometimento de quem é, em primeira instância, responsável pelo futuro das crianças”. Se bem que em certos casos se possa falar de afastamento dos pais, não devemos esquecer que, nos tempos de hoje, há muito maior cuidado parental, porque o futuro imprevisível para as crianças é uma das maiores preocupações dos pais. O problema é que a escola actual pouco faz para envolver os pais no processo educativo: são raras as acções destinadas aos encarregados de educação fora da habitual reunião de fim de período e a medida mais eficaz para envolver os pais — tornar os alunos protagonistas de realizações no espaço escolar — só é posta em prática de vez em quando. São, na realidade, muito poucos os pais que não queiram ver o filho a representar uma peça, a jogar futebol num torneio bem organizado ou a ser o principal autor de uma exposição de artes plásticas…

A sala de aula permanece sem grandes mudanças: professores exaustos a tentar “controlar” a turma, alunos desatentos ou agressivos para com os docentes. Falta a pesquisa, o trabalho de grupo, a utilização da experiência de laboratório, as visitas de estudo a locais que tenham a ver com a vida dos estudantes de hoje. Os computadores, que a maioria dos estudantes utiliza em suas casas para contactar amigos ou para jogos electrónicos, são ainda uma raridade na sala de aula. Sobretudo, ainda ninguém parece ter interiorizado que os jovens de hoje não aprendem “de cima para baixo” (um “mestre” mais velho a debitar conhecimentos para os mais novos), mas aumentam os seus conhecimentos de forma horizontal, a partir de amigos e, sobretudo, tendo como ponto de partida a Internet.

Filinto Lima termina o seu artigo e afirma: “É obrigação de todos nós contribuir para o combate à indisciplina com medidas concretas.” Não posso estar mais de acordo, mas comecemos pelo essencial: mudemos a maneira de ensinar, porque os alunos já alteraram o modo de aprender. Para isso, qualquer professor tem de ter como prioridade a educação (e não só a instrução); e para educar é preciso ter convicção e capacidade de escuta activa. No final deste ano lectivo, partamos para férias com a noção de que a mudança é cada vez mais urgente.

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