Passos: Portugal não será apanhado “desprevenido” pela incerteza na zona euro
Primeiro-ministro reclama méritos da situação segura das finanças nacionais enquanto a oposição puxa pelos indicadores económicos e sociais do país.
Passos Coelho falou várias vezes na palavra segurança e tentou dar uma imagem de tranquilidade. “Numa altura em que tantas incertezas pairam na zona euro e na União Europeia, é de valorizar Portugal ser encarado como um país que não será apanhado desprevenido pela materialização da incerteza na zona euro”, afirmou, lembrando que o país está “abrangido pelos mecanismos da zona euro que nunca deixarão ser accionados em caso de necessidade”.
O primeiro-ministro ressalvou que esta posição de maior tranquilidade se deve ao facto de o Governo não ter adoptado “uma posição de facilidade quer às políticas internas e políticas orçamentais” como “alguns reclamavam”.
Assumindo que o cenário actual – de risco de saída da Grécia da zona euro – “não é desejável nem para a Europa, nem para os portugueses”. Mas voltou a sublinhar: “Se hoje encaramos esses riscos com maior segurança isso deve-se a um trabalho de preparação que não começou há meio ano mas sim há quatro anos".
Sem se referir directamente ao PS, Passos Coelho sustentou que “foi a estratégia certa” que colocou Portugal “à beira de uma segurança”, o que não teria acontecido se tivesse cedido “aos apelos, os pedidos da decisão que a oposição fez nos últimos 4 anos”.
Mas a oposição evitou a questão europeia para se centrar em indicadores económicos e sociais do país. Ferro Rodrigues citou os números do INE que indicavam um “saldo migratório negativo” em Portugal e o relatório do Observatório de Saúde. “Para quando uma analise realista do Governo?” Jerónimo de Sousa citou os mesmos números.
O debate aqueceu verdadeiramente quando, na resposta, Passos Coelho afirmou que “os portugueses com rendimentos mais baixos não foram objecto de cortes”.
Catarina Martins, do BE, classificou a afirmação como uma “mentira”, lembrando os cortes nos subsídios de desemprego, no RSI. Antes, o comunista Jerónimo de Sousa lembrou a “perda do poder de compra” com o “aumento do custo de vida e aumento do IVA”.
A bloquista foi mais assertiva e atirou: “Não vale dizer tudo. Cortou nos mais pobres, e até há bocado me esqueci, cortou de forma violenta no subsídio de doença”.
A deputada dos Verdes também não deixou passar em claro a frase de Passos Coelho e insistiu: “Por que razão falta à verdade nestes debates? Ouvi-o dizer que não houve um aumento do IVA. Então não houve no IVA da electricidade, na restauração também ou não?”. E o primeiro-ministro repetiu a resposta. “É verdade que o anterior Governo aumentou [as taxas] e no início da legislatura fizemos a recomposição de bens e serviços. Fizemos isso, aumentámos a taxa da electricidade. Passou da reduzida para a normal. Na restauração passou da reduzida para a intermédia. Isso não é incompatível com o que eu disse. Não aumentei as taxas do IVA", retorquiu.
Já no final do debate, em resposta à bancada do PSD, o primeiro-ministro foi mais directo na crítica ao PS por ter defendido a estratégia errada com António José Seguro ou António Costa. "O PS não acertou na estratégia que devia seguir desde o início, e isso não tem a ver com a sua liderança; tem a ver com o partido. Não era António José Seguro nem António Costa que fazia a diferença. Eram, de facto, todos os senhores deputados e dirigentes do PS que escolheram uma estratégia socialista errada desde o princípio", disse Pedro Passos Coelho.
O líder dos sociais-democratas acusou os socialistas de até desejarem que Portugal “falhasse” os seus objectivos. E no dia em que é publicada uma sondagem que dá vantagem à coligação PSD/CDS, deixando o PS para trás, Passos Coelho apontou: “Hoje que vê que não são ‘favas contadas' aquilo que julgava ser o mais natural do mundo, que era uma passadeira vermelha para regressarem ao Governo, agora criticam o Governo pelos bons resultados que o país atinge".
Sobre a mesma sondagem da Universidade Católica para a RTP, Antena 1, DN e JN, o líder do PS optou por desvalorizar e reafirmar que o objectivo do partido é vencer as próximas eleições com maioria absoluta. A posição de António Costa foi transmitida aos jornalistas depois de ter assinado dois documentos programáticos com o líder do PSOE, Pedro Sanchez, no Largo do Rato.