Quase 25% dos portugueses acreditam que não vão ter filhos

Estudo mostra que tanto os homens como as mulheres gostavam, regra geral, de ter filhos antes dos 30. Mas, perante a realidade, os homens estimam ter o primeiro filho aos 34 anos e as mulheres aos 32.

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As mulheres gostavam de ter dois filhos mas acreditam que vão ficar, em média, com 1,3 filhos JOÃO GUILHERME

No trabalho, feito pela Sociedade Portuguesa de Medicina de Reprodução em parceria com a farmacêutica Merck e elaborado pela consultora KeyPoint, o número de filhos desejado também difere dos planos realistas: ambos os sexos gostariam de ter maioritariamente dois filhos, mas os homens esperam ficar-se, em média, pelos 1,4 filhos e o valor das mulheres é ainda mais baixo, de 1,3 filhos. Da amostra de 2400 pessoas entre os 18 e os 45 anos inquiridas presencialmente para o estudo, que será apresentado nesta terça-feira sob a forma de poster no congresso da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia, em Lisboa, são raras as pessoas que não querem de todo ter filhos, mas um quarto dos participantes acreditam que vão acabar por não ser pais.

 “Este estudo traz matéria para uma grande reflexão. Num país com tão baixa natalidade é de salientar que as pessoas não encontram condições para realizar de forma plena o desejo de ter filhos”, destacou ao PÚBLICO a presidente da Sociedade Portuguesa da Medicina da Reprodução, Teresa Almeida Santos. O próprio estudo recorda que as mães portuguesas estão a ter em média o primeiro filho com 31 anos e que em 2012 foram feitos em Portugal mais de 5800 novos ciclos dos principais tratamentos para este problema, a fertilização in vitro e de injecção intracitoplasmática de espermatozóides.

Teresa Almeida Santos sublinhou, por isso, outras conclusões, nomeadamente o “grande desconhecimento sobre a infertilidade” que pode atrasar os diagnósticos nos casais, com estimativas que apontam para que 10% tenham problemas que impedem ou dificultam uma gravidez. A especialista considera que é especialmente importante divulgar mais informação sobre o tema quando em que as mulheres começam a tomar a pílula muito cedo e durante vários anos, o que retarda a identificação de algumas doenças. Por outro lado, a ginecologista alerta que é “grave” que “87% dos homens e 77% das mulheres nunca tenham debatido o tema da fertilidade nas suas consultas médicas”. A procura de informação é feita maioritariamente online, em sites de informação médica, seguidos por revistas e jornais.

Para a médica, a divulgação da informação é determinante, até porque 72% dos homens e 76% das mulheres afirmam que alterariam os seus hábitos de vida se tivessem conhecimento de algum problema que afectasse a sua fertilidade. Aliás, se soubessem que tinham dificuldades, 41% dos homens começavam a tentar ser pais mais cedo e o valor sobe para 46% nas mulheres. A disponibilidade para preservar a fertilidade para poder tentar ter um filho mais tarde é encarada como uma possibilidade por mais de 70% dos inquiridos. Esta hipótese é esmagadoramente associada casos de doenças como o cancro, mas para 70% dos inquiridos também é uma alternativa para adiar a parentalidade por opção.

Teresa Almeida Santos alerta também para a persistência de alguns mitos à volta do tema da fertilidade, com 77% dos homens e 85% das mulheres a apontarem, erradamente, que a elevada ansiedade dos casais, por si só, pode impedir uma gravidez. A maioria dos participantes também avança, de forma errada, que o elevado número de parceiros sexuais afecta negativamente a fertilidade tanto em homens como em mulheres. Pelo contrário, só pouco mais de 50% dos inquiridos já sabem que há alguns comportamentos que devem ser evitados para preservar a fertilidade, como os homens utilizarem o telemóvel no bolso e roupa apertada. Também só cerca de 60% dos participantes reconhecem que fumar reduz a fertilidade tanto dos homens como das mulheres.

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