Com uns poucos milhares de dólares no bolso e uma campanha ancorada na internet, um jovem mexicano de 25 anos, de origem japonesa, conseguiu ser eleito nas eleições legislativas do passado domingo no México. Pedro Kumamoto, aliás Kuma, faz parte de um punhado de candidatos independentes que soube aproveitar uma reforma eleitoral adoptada o ano passado que autoriza candidaturas não-afiliadas aos partidos tradicionais.
Este jovem com ares de bom aluno descontraído, descendente de um imigrante japonês que chegou ao México depois da Primeira Guerra Mundial, deitou por terra os outros candidatos ao recolher 39% dos votos no Estado de Jalisco (oeste). “Não se trata de mim, não se trata de uma candidatura baseada na minha personalidade”, disse à AFP o jovem Kuma. “Trata-se de uma candidatura que nasceu nas redes sociais, de indignação com os partidos que não fizeram correctamente o seu trabalho”.
Pelo menos outros quatro candidatos independentes conseguiram ser eleitos no domingo, num universo de 500 deputados, nove governadores e cerca de 900 conselheiros municipais. Segundo alguns analistas, estas vitórias explicam-se pelo descrédito em que está mergulhada a classe política tradicional. Uma sondagem recente mostra que 91% dos mexicanos pensa que os seus políticos são desonestos.
O independente mais mediatizado desta mini-revolução mexicana é sem dúvidas Jaime Rodriguez, conhecido por El Bronco, que se converteu no primeiro governador independente da história do país, no Estado de Nuevo Leon (norte), enquanto no Estado de Sinaloa (nordeste), Manuel Clouthier se tornou no primeiro deputado sem filiação num partido tradicional.
Tanto El Bronco como Clouthier pertenciam até há pouco tempo à classe política tradicional, antes de se lançarem sozinhos na aventura dos votos. Mas Kumamoto é um perfeito desconhecido cuja vitória pode criar um precedente.
Para dar arranque à sua campanha recebeu do Estado os 1100 dólares (971 euros) previsto pela lei. De seguida conseguiu recolher 13 mil dólares (11.487 euros) graças a doações e a uma campanha porta-a-porta onde os seus jovens apoiantes trocavam creme solar, garrafas de água e batatas for fundos eleitorais. Segundo o analista político José Antonio Crespo, a eleição de Kumamoto é “a mais significativa” de todas. “Muitas pessoas vão estudar este caso”.
Diplomado em gestão por uma universidade jesuíta, Kumamoto é membro da Wikipolitica, uma rede de jovens voluntários que promove o activismo cidadão e a transparência governativa. A coordenadora da sua campanha, Alejandra Parra, tem apenas 24 anos e gaba o seu discurso inspirador.
Para fazer a sua campanha, o jovem candidato criou um site na Internet muito elaborado e abriu uma conta no Twitter que foi seguida por cerca de 20 mil pessoas. Também atraiu o apoio de vários intelectuais e professores, incluindo um ex-presidente da comissão local dos direitos humanos.
Apesar do seu apelido e dos seus traços asiáticos, Kumomoto diz-se “muito mexicano”. Tal como o seu bisavô, aquele que fez a viajem do Japão para o México, também ele escolheu uma via alternativa para ir em frente. “Tinham prometido ao meu bisavô que ele ia para São Francisco, na Califórnia, mas o seu barco chegou a Chiapas (extremo sul do México) onde ele se casou com uma indígena da etnia Tzotzil”, conta Pedro Kumamoto. “A bússola estava um pouco desregulada.”