Morreu Tariq Aziz, o chefe da diplomacia do Iraque de Saddam
Foi o número dois do regime, mas nunca fez parte do círculo íntimo do Presidente. Foi condenado à morte, mas não foi executado.
“Tariq Aziz morreu no hospital universitário Hussein, na cidade de Nassiria, para onde foi levado quando o seu estado piorou", confirmou à AFP Adel Abdulhussein al-Dakhili, vice-governador da província de Dhi Qar, onde o antigo ministro estava detido. O antigo ministro sofria de insuficiência cardíaca e respiratória e tinha diabetes; os anos de prisão agravaram estes problemas.
Em 2010, depois do derrube do regime, Aziz foi acusado de crimes contra a humanidade e perseguição religiosa e condenado à morte. Anteriormente, em 2008, já tinha passado por outro julgamento, em que fora condenado a uma pena de prisão de 15 anos por causa da execução de 42 comerciantes acusados de manipularem preços. Cinco meses depois foi sentenciado a mais sete anos de prisão num julgamento relacionado com os curdos. Porém, não foi executado.
As novas autoridades do país nunca mostraram vontade de executar Aziz, nota a BBC. E, em 2011, o preso pediu ao primeiro-ministro de então, Nouri Al-Maliki, para cancelar a sua execução devido ao seu estado de saúde.
Foi Aziz, como segunda figura do país depois de Saddam Hussein, quem, em 2003, se rendeu às tropas americanas que invadiram o país com o objectivo de derrubar o regime e destruir as armas de destruição maciça na posse do Governo de Bagdad. Um pretexto que, foi depois provado, foi fabricado; as armas não existiam.
Tariq Aziz foi projectado para os media mundiais durante a primeira Guerra do Golfo, em 1991, que eclodiu depois de o Iraque ter invadido o Kuwait. Era então o chefe da diplomacia e, com o seu inglês perfeito, óculos, bigode e os cigarros que fumava constantemente, tornou-se o embaixador do regime. No anos de 1980, foi recebido por Ronald Reagan na Casa Branca e no Kremlin.
Apesar de ser o número dois – foi também vice-primeiro-ministro –, este cristão caldeu num governo dominado pelos muçulmanos sunitas nunca fez parte do círculo íntimo de Saddam. No Ocidente, era considerado o mais aceitável dos membros do círculo próximo do ditador e, apesar de se saber que era um seguidor fiel do Presidente, sabia-se que não era ouvido na tomada das principais decisões.
Em 2003, Aziz fez um último périplo para tentar impedir o derrube do regime que se adivinhava certo – foi recebido pelo Papa João Paulo II no Vaticano. Mas nada conseguiu, nem no exterior nem no Iraque, onde era um homem pouco influente, como ficou claro no famoso baralho de cartas que os militares dos EUA inventaram para hierarquizar as figuras do regime de Bagdad; Aziz era apenas o 8 de espadas; Saddam era o Ás deste naipe.