Avião solar foi obrigado a aterrar no Japão e não seguiu para o Havai
Devido à previsão de mau tempo, a viagem entre a China e o Havai deste avião experimental teve de ser interrompida. Agora, ele vai ter de esperar que as condições melhorem para retomar voo.
Aos comandos do Solar Impulse 2, o piloto suíço André Borschberg dera início, na madrugada de domingo (19h39 de sábado em Lisboa), à tentativa de atravessar o Pacífico, da China ao Havai. Mas devido à “degradação da janela meteorológica”, este avião movido a energia solar, que não usa uma gota de combustível, já se encontrava em stand-by, desde a noite de domingo para segunda-feira, a sobrevoar o mar do Japão.
“Parabéns, André”, ouviu-se alguém exclamar na sala de comando quando o Solar Impulse 2 pousou em solo japonês. “Este foi o voo mais longo jamais realizado com um avião movido a energia solar. Foi um grande sucesso!” E de facto, apesar do contratempo meteorológico – que faz com que o voo directo entre a China e os EUA já não possa ser efectuado desta vez, como inicialmente previsto, o Solar Impulse 2 pulverizou todos os seus recordes de permanência no ar: mais de 44 horas.
Foi pelas 8h20 da manhã de segunda-feira que os responsáveis anunciaram, via Twitter, a sua decisão de realizar uma “escala intermédia” em Nagóia. “Vamos esperar por uma melhoria das condições para retomar a viagem”, declarou nessa altura Bertrand Piccard, o segundo piloto do avião, citado pela agência noticiosa AFP.
A aeronave experimental, que está equipada com 17 mil painéis fotovoltaicos e é capaz de voar de dia e de noite, descolou no domingo às 2h39 de Nanquim (China), onde tinha chegado a 21 de Abril, no final da sexta das 12 etapas programadas na sua volta ao mundo. Já percorreu 7000 dos 35.000 quilómetros previstos e esperava-se que, daqui a seis dias e seis noites de voo contínuo, chegasse ao seu destino em solo norte-americano.
A etapa China-Havai, que seria a mais longa e a mais delicada de todo o percurso – 8172 quilómetros, quase sempre sobre o mar – representava de facto um enorme desafio para André Borschberg, que iria passar os próximos dias no minúsculo cockpit (com uma área semelhante à de uma cama de casal), tentando manter-se acordado a maior parte do tempo.
Foi esse objectivo que teve agora de ser abandonado por causa do mau tempo. “Quando partimos da China, as condições meteorológicas até ao Havai eram aceitáveis”, explicou Bertrand Piccard à AFP desde o Mónaco. “Mas o nosso avião não foi feito para atravessar uma frente fria. Voa lentamente, é sensível às turbulências e precisa de luz solar para recarregar as baterias. Ora, as previsões davam um reforço da frente fria ao quinto dia de voo.”
“Estamos um pouco desiludidos por não termos conseguido fazer o trajecto non-stop da China ao Havai”, admitiu Piccard, “mas nunca daremos a volta ao mundo se arriscarmos afundar o avião no meio do Pacífico!”
Nagóia era o último local onde uma aterragem em segurança ainda era possível. A seguir, em caso de problema, o piloto poderia ter sido obrigado a saltar de pára-quedas no oceano e a aguardar por uma equipa de resgate numa jangada de salvamento, a centenas de quilómetros de qualquer local habitado. Isto porque, explica ainda a AFP, nenhum navio é suficientemente rápido para conseguir acompanhar o avião solar, que voa a uma velocidade máxima de 90 quilómetros por hora a baixa altitude e de 140 quilómetros por hora nas camadas mais altas da atmosfera.
Na sua volta ao mundo, o Solar Impulse 2 – cujas asas têm a envergadura das de um Boeing 747 mas cujo peso é apenas o de um carro grande – tem sido pilotado ora por Piccard (o primeiro a dar a volta ao mundo num balão), ora por Borschberg. Ambos lideram este projecto nascido na Suíça, sem precedentes na história da aviação. “Estamos a tentar fazer história”, salientou ainda Piccard, “e isso não é fácil. Muitas vezes, são precisas várias tentativas. Vamos ver se conseguimos ainda este ano.”
A missão do Solar Impulse 2 começou a 9 de Março, quando partiu de Abu Dabi (Emirados Árabes Unidos). Ao longo de mês e meio de viagem, seguiram-se uma paragem em Muscat (Omã), duas na Índia (respectivamente em Ahmedabad e Varanasi), uma em Mandalay (Birmânia) – e por último, já em território chinês, uma em Chongqing.
A partida para o Havai já fora várias vezes adiada devido às condições meteorológicas. E aliás, o avião já tivera também de esperar três semanas antes de levantar voo para Nanquim.