Salvadores

Com tantos salvadores, a Pátria irá fatalmente ao fundo.

A coligação, à parte a querela de origem entre Passos Coelho e Paulo Portas, não passa de um grupo de franco-atiradores, que ataca quando lhe apetece e se cala quando não lhe apetece, desdiz na terça o que disse na segunda e precisa sempre de um pronto-socorro para os desastres do dia-a-dia. Passos Coelho está sempre de mangueira na mão para apagar o último fogo, que muitas vezes foi ele próprio que ateou. O contorcionismo a que isto obriga deixa invariavelmente o público entontecido e desconfiado. Junto aos vários candidatos à presidência do partido e do Estado cria uma embrulhada que ninguém consegue desatar. Com Marcelo, Rui Rio e Santana Lopes, olhando gulosamente para Belém ou para o PSD, não há maneira de prever um futuro claro e razoável, ou “estratégia” (eles gostam de usar a palavra) que anule a “estratégia” do lado.

Mesmo o CDS, uma agremiação de hábitos mais brandos, resolveu recentemente produzir uma ninhada de substitutos de Paulo Portas, para o caso de ele perder: Assunção Cristas (suponho que pelo novo acordo ortográfico), Mota Soares, João Almeida, Cecília Meireles e Nuno Melo. O que estas personagens pretendem permanece um mistério. Nas franjas da extrema-esquerda, além das caras do costume (do Bloco e do PC), emergiram de repente, sob o patrocínio do Livre, uma dezena de messias (acabados de comprar ou recauchutados) cujo destino é obscuro: Ana Drago, Ricardo Sá Fernandes, Isabel do Carmo, Rui Tavares, André Nóvoa (filho do outro), São José Lapa e criaturas semelhantes. Vêm por um quarto de hora de celebridade ou suspiram de facto por salvar a Pátria. Uma conclusão não deixa dúvidas: com tantos salvadores, a Pátria irá fatalmente ao fundo.

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