A Espanha está hoje mais colorida
O mapa político mudou muito este domingo – mas voltará a ser bicolor, se Espanha não for governável.
Fragmentação política mais o fim do bipartidarismo são duas variáveis que fazem parte da mesma equação e cujo resultado final terá de ser necessariamente a governabilidade. Caso contrário, todo este fenómeno que se está a passar em Espanha – novos partidos e forças emergentes, movimentos da sociedade civil, contestação convertida em forças políticas – terá um prazo de validade que será a data das legislativas de Novembro.
Este domingo mais de 30 milhões de espanhóis foram chamados a votar para eleger governos em 13 das 17 comunidades autónomas e nos 8116 municípios. O El Mundo resume assim os resultados que coloriram o mapa político em Espanha: “Vitórias amargas sem doces derrotas.” Ada Colau, a activista anti-despejos que obteve a câmara de Barcelona, será a excepção que confirma a regra. E a vitória, doce neste caso, foi segundo a própria “a vitória de David contra Golias”. “Venceram as pessoas, a cidadania, a esperança, o desejo de mudança contra a campanha do medo.”
Na outra grande autarquia do país, em Madrid, vai ser preciso juntar dois “David” para derrubar o PP, que governa a capital há 24 anos. Esperanza Aguirre dos populares foi a que teve mais votos, mas uma aliança entre Manuela Carmena do Ahora Madrid (apoiada pelo Podemos) e o PSOE dará a câmara à esquerda. A envida do PÚBLICO a Madrid, Sofia Lorena, recordava esta segunda-feira o tom humilde de Aguirre no discurso de “vitória”, um tom que os espanhóis não se lembram de lhe ouvir. Em Espanha, os eleitores elegem deputados municipais e são estes que depois elegem os presidentes de câmara.
Os rostos da mudança em Espanha vaticinam o que aí vem: Albert Rivera do Ciudadanos diz: “Ainda não fizemos mais do que começar.” E Pablo Iglesias do Podemos afirma que se “começa a escrever em Espanha o fim do bipartidarismo”. O bipartidarismo ainda não terminou, mas já estará bastante combalido. PP e PSOE continuam a ser os dois partidos mais votados, tal como previa Mariano Rajoy, só que a diferença é que agora, juntos, superam ligeiramente a fasquia dos 50%, quando antes conseguiam ficar com 80% dos votos dos espanhóis. Mas nenhum deita a toalha ao chão; os populares, apesar de terem perdido 2,4 milhões de votos, olham para os números e dizem que são “a força mais votada tanto nas autonómicas como nas municipais”. Pedro Sanchez, no seu primeiro teste eleitoral, também perde quase 700 mil votos, mas congratula-se: “Se houve algo que ficou claro, é que o PSOE alcançou o PP.”
Agora com o mapa político em Espanha mais retalhado seguir-se-á uma complicada e demorada tentativa de alianças e pactos. Basta olhar para Susana Díaz, que ganhou a Andaluzia em Março, sem a habitual maioria absoluta, e que continua às voltas para conseguir sentar-se na cadeira de presidente. Se da fragmentação política a que estamos a assistir em Espanha resultarem governos e alianças estáveis, o bipartidarismo poderá realmente ter os dias contados, mesmo a nível nacional.