Sonda Dawn já completou primeiro mapeamento do planeta-anão Ceres

Inicialmente considerado como sendo um planeta, mais tarde um asteróide – e desde 2006 um “planeta-anão” –, Ceres continua a estar envolto num mistério que a sonda lançada ao seu encontro pela NASA vai agora tentar desvendar.

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Ceres fotografado pela sonda Dawn de uma altitude de 13.600 quilómetros, com pontos luminosos visíveis à superfície NASA/JPL-Caltech/UCLA/MPS/DLR/IDA

“A nave continua a funcionar de forma impecável nesta sua primeira [fase] de mapeamento de Ceres”, informara a NASA já na semana passada, acrescentando a Dawn enviava resultados – “imagens e outras observações” – quase diariamente para o centro de controlo da missão na Terra.

O objectivo da missão, cujo custo é de 446 milhões de euros, é testar a teoria segundo a qual Ceres seria uma espécie de “embrião” de planeta rico em água – uma relíquia do nascimento do sistema solar, há 4500 milhões de anos. Ceres demora o equivalente a 4,61 anos terrestres a dar a volta ao Sol. Com um diâmetro de cerca de 950 quilómetros, é o maior objecto da cintura de asteróides – e é suficientemente grande para que a gravidade lhe tenha conferido a sua forma quase esférica. Foi observado pela primeira vez em 1801 pelo astrónomo italiano Giuseppe Piazzi, que lhe deu o nome da deusa romana da agricultura.

A Dawn entrou em órbita de Ceres a 6 de Março passado, após um périplo de sete anos e meio. Inicialmente numa trajectória elíptica, a sonda demorou vários dias a integrar-se na sua primeira “órbita científica circular” a uns 13.500 quilómetros de altitude, explicava ainda NASA. E foi só a 27 de Abril que a missão teve oficialmente início.

A esta altitude, a Dawn demorou cerca de 15 dias a completar uma volta a Ceres, período que terminou na passada sexta-feria 8 de Maio. “No dia 9 de Maio, a nave ligou o seu motor iónico para iniciar uma descida em espiral até à sua segunda órbita de mapeamento, manobra que deverá durar um mês”, explica agora a NASA. A sonda ficará inserida neste segundo “patamar” orbital no próximo dia 6 de Junho, a uma altitude de 4.400 quilómetros, ou seja, três vezes mais perto de Ceres.

Nesta trajectória mais baixa, a Dawn deverá tornar a mapear a superfície de Ceres e começar a desvendar a história da sua geologia, para determinar nomeadamente se existe alguma actividade geológica no planeta-anão. Mas "antes de atingir a sua segunda órbita, a nave irá fazer duas pausas para obter imagens de Ceres”, salienta ainda a NASA.  

Ceres tem sido um enigma para os cientistas – sobretudo desde que o telescópio espacial Hubble da NASA observou, em 2003 e 2004, um ponto brilhante à sua superfície. Uma dúzia de pontos luminosos já foram entretanto observados à superfície de Ceres, que surgem nas imagens como luzes a brilhar sobre um fundo cinzento-escuro.

Pensa-se que estes pontos possam ser zonas de gelo ou de minerais hidratados, segundo a agência noticiosa AFP. Contudo, a hipótese de serem feitos de gelo seria difícil de explicar, uma vez que Ceres não está suficientemente longe do Sol para ter gelo estável à sua superfície.

Seja como for, as imagens que a Dawn foi captando à medida que se aproximava de Ceres e durante a sua fase de “reformatação” orbital só vieram adensar este mistério. De facto, quando a sonda observou mais ao perto dois desses pontos brilhantes, designados respectivamente “Spot 1” e “Spot 5”, para tentar descobrir a sua identidade química e física, as análises mostraram algo que ninguém esperava: os dois pontos parecem ser de natureza diferente.

Mais precisamente, nas primeiras imagens térmicas (em luz infravermelha) enviadas pela Dawn, o “Spot 1” surge como um ponto escuro numa bola vermelha, mas o “Spot 5” pura e simplesmente desaparece, salienta ainda a AFP. Isso significa que o “Spot 1” é mais frio do que o que o rodeia, enquanto o “Spot 5” parece estar à mesma temperatura do que a zona à volta.

Ceres apresenta outro mistério ainda: não é parecido com o seu vizinho Vesta, que foi estudado pela sonda Dawn em 2011 e 2012. Vesta é um grande rochedo de forma irregular, sem qualquer vestígio de água. Brilha e reflecte uma boa parte da luz do Sol, enquanto Ceres é escuro – um contraste que parece indicar que estes corpos viveram odisseias espaciais muito diferentes.

Também parece haver menos crateras em Ceres do que era de esperar após a observação de Vesta. Mas, ao mesmo tempo, as marcas de impacto à superfície sugerem que Ceres sofreu violentas colisões, fazia notar um especialista citado pela AFP. Quanto à hipótese segundo a qual Ceres seria um planeta “bebé” que nunca se teria tornado adulto, talvez seja possível esclarecer esta questão nos próximos meses.

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