Quanto mais longo o silêncio, maior é a cólera

Enquanto a água caía através do telhado, o pai disse
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Enquanto a água caía através do telhado, o pai disse

O fotógrafo Matt Black visitou as aldeias de onde são oriundos os 43 estudantes que desapareceram no México, no dia 26 de Setembro de 2014, e documentou a dor, a raiva e a inconformação das suas famílias. Black esteve no distrito de Guerrero durante um mês para realizar este trabalho; disse em entrevista ao P3: "A atmosfera mudou radicalmente após o que sucedeu com os estudantes. Está presente um genuíno sentimento de raiva e traição." Apenas um dos corpos encontrados na região foi identificado como pertencendo a um dos estudantes desaparecidos, o que levou o governo a declarar o óbito dos restantes 42 sem o aparecimento dos seus corpos. "Quase todas as famílias acreditam que os seus filhos estão vivos e que estão retidos algures. Sem um governo que produz prova ou sem os restos mortais dos estudantes, não acredito que alguma vez consigam mudar esse sentimento." observa o fotógrafo. O ambiente de tensão que se vive nestas povoações do interior mexicano deve-se também a um constante sentimento de insegurança por parte das populações. Uma série de valas comuns foram encontradas na região onde ocorreu o rapto e, apesar do avultado número de corpos calcinados que foram encontrados, nenhum pertencia a um estudante. Estima-se que centenas de "desaparecidos" estarão enterrados em valas clandestinas nas montanhas junto à cidade. Um dos membros de um grupo de auto-defesa de Aplanta, em Guerrero, reclamou: "A única coisa que pedimos ao governo é que nos deixe por nossa conta. Se não conseguem garantir a segurança da nossa gente, do nosso estado, da nossa região, que deixem o trabalho connosco." O descontentamento impera. Black descreve: "A energia e raiva das pessoas está direccionada para a estrutura política e para a profunda corrupção dos agentes políticos e elites. Não existe qualquer ambiguidade nas suas mentes: o culpado é o 'narco-estado', que é a união entre um governo corrupto e os cartéis de droga". O fotógrafo não teve dificuldades em contactar com as famílias, diz ter sido recebido de braços abertos pelo facto de ser americano. "A sua desconfiança nas instituições mexicanas inclui a imprensa." A raiva intensa e profunda que encontrou não mostra quaisquer sinais de esmorecimento. "Quanto mais longo o silêncio, maior é a cólera." constatou. A série fotográfica "Guerrero and the Disappeared" foi uma encomenda do jornal New Yorker que, em paralelo, criou um vídeo documental sobre o mesmo assunto intitulado "The Monster in the Mountains" ("O Monstro nas Montanhas") - vídeo esse que já foi publicado no P3 anteriormente. Matt Black é fotógrafo documentarista oriundo da Califórnia, EUA, e especializado em questões relacionadas com migração.

Uma rua na cidade de Cochoapa el Grande, em Guerrero
Nuvens sobre El Chuparosa.
Mulheres em casa em Cochoapa el Grande, Guerrero.
Uma criança dorme sobre um saco de milho, em El Chuparosa, Guerrero.
Lavrador colhe milho no seu lote de terra em El Chuparosa, Guerrero.
Um grupo de auto-defesa em Aplanta, Guerrero.
Uma rua em Moyotepec, Guerrero. Mais de um quarto da população de Guerrero emigrou para os EUA.
Membro do Mov. pelas Famílias dos Desaparecidos junto a uma vala aberta. Iguala, Guerrero.
Abutres apanham sol perto de Ayutla de los Libres, Guerrero.
Procissão do Dia dos Mortos em San Miguel Amoltepec, Guerrero.
O cemitério de San Miguel Amoltepec, Guerrero, após um deslizamento de lama.
Um produtor de café em casa, em San Marcos, Guerrero
Lavrador e a sua esposa em Tecuantepec, Guerrero, a cidade natal do estudante Abel García Hernández.
Impressões de mãos de criança numa casa em El Chuparosa, Guerrero.
Procissão do Dia dos Mortos em San Miguel Amoltepec, Guerrero.