Nepal sofre abalo também na sua economia

O país depende quase inteiramente da agricultura e turismo. O sismo pode comprometer ambos e prejudicar uma sociedade dividida e instável politicamente.

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Para que se devolva esperança ao Nepal será preciso o apoio internacional Navesh Chitrakar/Reuters

A agricultura emprega 70% dos trabalhadores no Nepal e representa 30% do seu PIB. O sismo  atingiu 36 dos 75 distritos do país, destruindo parte da sua subdesenvolvida infraestrutura. Para além do mais, o sismo afectará gravemente a indústria do turismo, outra roldana da economia do Nepal e a principal responsável pelo crescimento económico recente.

Sem assistência internacional, os tempos avizinham-se difíceis para os habitantes nepaleses. Cada cidadão vive com o rendimento anual bruto de cerca de 674 euros e, como indica o Banco Mundial, 25,2% da população vive abaixo do limiar da pobreza. Depois de uma catástrofe desta natureza, os preços da alimentação aumentarão consideravelmente, dificultando o regresso à normalidade. “A procura de bens de primeira necessidade aumenta, mas a oferta será limitada”, como explica à AFP Rajiv Biswas, o economista-chefe da IHS, uma agência de investimento global.

Mas a economia do Nepal não é a sua única fragilidade. Há duas décadas que o país atravessa também um período de graves perturbações políticas. Esta instabilidade deu espaço para se desenvolvessem também profundas divisões sociais . Como escreve o New York Times, o Nepal tem 125 diferentes grupos étnicos, 127 idiomas e dezenas de castas. E alguns destes grupos são irreconciliáveis.

20 anos de conflitos
A instabilidade política aflige o Nepal há décadas, mas o mais recente trecho da sua história teve início há quase vinte anos. Em 1996 houve o culminar de um período de disputas eleitorais entre o então e actual primeiro-ministro do país, Sushil Koirala, com os maoistas do Partido Comunista Unificado do Nepal. Os maoistas declararam uma revolta armada contra o Governo e contra a monarquia nepalesa. A guerra terminou apenas em 2006 e matou mais de 15 mil pessoas. Nos seus 10 anos, o conflito levou mais do que vidas. Também atrasou e destruiu parte da economia

Pelo meio, em 2001, o herdeiro do trono do Nepal, embriagado, assassinou a tiro o seu pai, o rei, e mais 10 pessoas no palácio real. Suicidou-se em seguida e o trono foi para Gyanendra, que viria a ser o último rei do país. A monarquia foi sucessivamente perdendo poderes até que, em 2008, o Parlamento do Nepal aprovou a sua abolição. Foram convocadas eleições para a formação de uma Assembleia Constituinte e subiu ao poder o actual primeiro-ministro, Sushil Koirala.

Desde então, o cenário político no Nepal tem sido marcado pelo impasse sobre a nova Constituição e pelos conflitos étnicos e partidários que ela arrasta. Em Fevereiro deste ano, cerca de 30 mil pessoas em protesto – os números são da Reuters – entraram em confrontos com as autoridades nepalesas. A manifestação, convocada pela oposição maoista, exigia que a nova constituição divida o país em estados de acordo com as dezenas de castas, etnias e religiões do Nepal. 

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