Os jovens e o álcool
O problema é conhecido: o consumo de álcool pelos adolescentes não tem diminuído. Os pais preocupam-se com a questão, mas têm muita dificuldade em traçar limites e dizer “não”. Para os jovens, consumir álcool nas saídas à noite é um ritual a que dizem não poder faltar.
Há dois anos, a revisão da lei continuava a permitir o consumo de cerveja e vinho a partir dos 16 anos, enquanto as bebidas destiladas só eram permitidas depois da maioridade. Estudos mais recentes mostraram a ineficácia desta decisão, porque o consumo não baixou e até pode ter criado a ideia de um álcool “bom” e um álcool “mau”, o que não faz sentido para os especialistas.
Propõe-se agora que a diferença acima referida seja anulada e todas as bebidas alcoólicas só sejam permitidas depois dos 18 anos. Na União Europeia, 18 dos 27 países já fixaram este limite da maioridade.
Estou de acordo com essa determinação, mas não creio que ela venha a ter sucesso, se não forem tomadas outras medidas.
Um dos responsáveis do SICAD (Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências) disse à Revista Visão: “Preferimos ir para um caminho persistente, mantendo a actual prevenção nas escolas…” O problema é que não se descortina um trabalho preventivo de continuidade nos nossos estabelecimentos de ensino. Onde está a prevenção? Em muitas escolas, nem sequer se fala do problema; em tantas outras, existem acções isoladas, em que um “especialista” fala da questão e alguns alunos pesquisam na Internet, sem que um trabalho aprofundado seja iniciado. Por outro lado, não existe qualquer fiscalização: junto às escolas, a cerveja é servida em grande quantidade a adolescentes com menos de 16 anos; e na rua ou nos locais de diversão nocturna os maiores de 18 anos pedem álcool e vão a correr passá-lo aos mais novos. Os pais assistem a tudo isto com permissividade chocante: com a pouca autoridade e a educação indulgente que caracterizam muitas das famílias de hoje, permitem que os filhos bebam à vontade e nada fazem quando eles chegam a casa embriagados, ou nas ocasiões em que a polícia intervém e pede para os levarem de volta.
Não admira que assim seja. Os pais não têm onde se dirigir para reflectir sobre este tema e são pressionados pelo discurso adolescente, sempre à volta do slogan “todos os meus amigos fazem assim”. Nas escolas, foi destruído em três anos todo o trabalho preventivo, estruturado à volta da Educação para a Saúde, onde um “professor coordenador de saúde”, em ligação com as estruturas de saúde, dinamizava, a partir do trabalho dos alunos, programas de prevenção sobre álcool e drogas. As escassas mensagens agora veiculadas são erradas, como por exemplo a ideia de que todos os que bebem muito ao fim-de-semana se tornarão alcoólicos, quando se sabe que esse risco só é significativo para os filhos e netos de alcoólicos.
A acção preventiva tem de ser focada no significado do álcool para a juventude, por exemplo no facto de os adolescentes saírem para se embriagar, enquanto há 30 anos isso acontecia às vezes; na sua dificuldade de diversão sem a presença permanente de um tóxico; no facto de a toxicidade ser maior nas raparigas, só pelo facto de os rapazes serem maiores e terem mais água no organismo; e nos efeitos de o tóxico ser mais grave num cérebro em desenvolvimento.
A acção restritiva tem de ser clara e eficaz, junto de quem vende e de quem facilita o consumo a menores. Só assim as novas propostas servirão para alguma coisa.