Arte urbana de Lisboa é cada vez mais uma atracção turística

Turistas, sobretudo estrangeiros, são os principais interessados nas visitas guiadas pela arte urbana presente nas paredes da capital.

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Graffiti na Av. Fontes Pereira de Melo marcou um "momento de mudança" na arte urbana de Lisboa, diz Sílvia Câmara João Gaspar/Arquivo

"Sabemos pela dinâmica de actividades turísticas que observamos e pelas respostas aos inquéritos que fazemos que a arte urbana é já um dos motivos de agrado importantes nas viagens de city breaks e de touring", apesar de não haver "dados que permitam suportar a opinião de que a arte urbana é já uma motivação primária de viagens a Portugal", disse à Lusa o presidente do Turismo de Portugal, João Cotrim Figueiredo.

O responsável acredita que, "continuando a fazer um trabalho coerente e persistente na área da criação e promoção deste tipo de oferta, haverá oportunidade, a prazo, de tornar esta actividade na tal motivação primária".

Também a coordenadora do Gabinete de Arte Urbana (GAU), da Câmara de Lisboa, Sílvia Câmara, considera que o interesse dos turistas neste tipo de oferta tem aumentado. No entanto, "não temos números, nem estatísticas, porque é algo que está no espaço público, não é fácil de controlar ou contabilizar, como acontece num museu", ressalva.

A pintura das fachadas de prédios devolutos na Avenida Fontes Pereira de Melo, em Lisboa, em 2010, por Os Gémeos (Brasil), Blu (Itália) e Sam3 (Espanha) foi o "momento de viragem", aponta Sílvia Câmara, para quem foram essas obras, realizadas no âmbito do projecto Crono, que "fizeram o olhar do mundo virar-se para Lisboa". Um ano depois o jornal britânico The Guardian fez um top 10 das melhores obras de street art do mundo. As que estavam nas paredes daqueles prédios faziam parte da lista.

As visitas guiadas dedicadas ao tema e a edição, em Julho do ano passado, do primeiro volume de uma colecção de livros sobre a arte urbana em Lisboa, "um pequeno roteiro turístico-cultural que contém um mapa", da Zest - Books for Life, são, para Sílvia Câmara, provas do "interesse turístico na arte urbana" e também por parte de jornalistas internacionais. Outro sintoma de que a arte urbana de Lisboa está bem e recomenda-se é o facto de o roteiro turístico alemão sobre lisboa ter dedicado uma secção ao tema.

O presidente do Turismo de Portugal confirma que, no trabalho diário da equipa do portal de promoção turística Visitportugal, reconhece-se o impacto que causam os conteúdos relativos à arte urbana, pela interacção e pelo envolvimento que geram entre a comunidade. "Destacar o tema nalgumas acções de promoção é uma forma de reflectir o crescente interesse que o tema tem suscitado nos últimos anos, sendo também um meio eficaz de chamar a atenção sobre o património nacional", afirmou João Cotrim de Figueiredo.

O responsável deu como exemplo a participação do artista português Gonçalo MAR nas comemorações do Dia de Portugal, em Hamburgo, na Alemanha, em 2014, "com um trabalho alusivo à região vinícola do Douro e do produto Gastronomia e Vinhos", e na Feira Internacional de Madrid, Espanha, já este ano, na qual o trabalho de MAR esteve exposto. Nesta feira marcou também presença Diogo Machado, que assina Addfuel, que "no seu trabalho utiliza um aspecto muito importante da cultura portuguesa, os padrões de azulejo, através de uma técnica de stencil".

Visitas à medida
Não faltam visitas guiadas para apreciar o trabalho destes autores consagrados dentro e fora de portas. "A partir do momento em que Lisboa ficou no mapa as pessoas passaram a querer saber mais e começaram a surgir empresas, entidades e serviços que começam a ser prestados no âmbito desse trabalho", confirma Vasco T. Rodrigues, que fotografa graffiti desde que a actividade surgiu em Portugal, nos anos 1990, em Carcavelos. O fotógrafo é o guia na visita "The Real Lisbon Street Art Tour", da empresa Estrela D'Alva, que adapta o percurso ao que os turistas já conhecem ou querem ver. Cerca de 90% são estrangeiros.

Um dos responsáveis do programa Crono, o tal da Avenida Fontes Pereira de Melo, era o artista português Alexandre Farto, que assina como Vhils. É dele também, em conjunto com a francesa Pauline Foessel, a plataforma Underdogs, que tem um programa de exposições e arte pública que já deu a Lisboa 19 murais. À 18.ª parede, a Underdogs decidiu que "seria importante dar a possibilidade de as pessoas saberem mais sobre o projecto" e assim surgiram, há cerca de um mês, as visitas guiadas, contou à Lusa Mariana Mesquita, da plataforma.

"Até agora temos tido mais estrangeiros, pessoas muito interessadas em arte urbana ou arte pública, com muita informação, com background, que conhecem os artistas que vão ver", contou, acrescentando que "essas pessoas querem saber mais, o que está por trás". Na visita ficam a saber, por exemplo, que algures no mundo irá surgir um mural que completa aquele que o brasileiro Nunca pintou em Marvila. Em Lisboa está Pedro Álvares Cabral a pedir esmola e Nunca assegurou à Underdogs que num outro local será pintado quem lha dá.

O tour, feito em minibus quando se trata de pequenos grupos ou em sidecar nas visitas privadas, arranca no Mercado da Ribeira, onde a plataforma tem uma loja, e termina em Alcântara, com uma paragem na galeria, onde está patente até 9 de Maio uma exposição da artista portuguesa Wasted Rita, que irá pintar a 20.ª parede do programa de arte pública.

Várias paredes encontram-se em zonas consideradas menos turísticas, como Marvila, Xabregas e Alcântara, aproveitando-se para "mostrar outras zonas, outras dinâmicas".