Há muitos anos que se estava à espera de um grande terramoto em Katmandu
Além de o Nepal ficar numa zona de elevado risco sísmico, as regras de construção deixam muito a desejar.
Calcula-se que a cada 70 anos, mais ou menos, Katmandu sofra um grande tremor de terra; o último acima de 8 na escala de Richter foi em 1934, há 81 anos: teve 8,4 de magnitude, destruiu mais de 80 mil edifícios e matou 8500 pessoas. Mas agora a capital nepalesa é densamente povoada, com cerca de 2,5 milhões de habitantes. Estimava-se que um sismo de magnitude semelhante pudesse matar hoje mais de 100 mil pessoas, deixar 300 mil feridos, e destruir 60% dos edifícios.
A maior parte das mortes quando há tremores de terra é causada pela destruição dos edifícios (cerca de 80%) e a avaliação do parque edificado de Katmandu é muito negativa: cerca de 93% dos edifícios da cidade não tem projecto de engenharia, segundo uma análise recente do Comité Internacional da Cruz Vermelha sobre a legislação relativa à redução de risco de desastres no Nepal.
Apesar de existirem regras de segurança para a construção civil desde 1993, as leis não são aplicadas, enquanto a capital continua a crescer, muitas vezes com a construção de pisos extra em edifícios pré-existentes. A instabilidade política também não tem ajudado – a Assembleia constituinte eleita em 2008, após o fim de uma década de rebelião maoísta e a abolição da monarquia nepalesa, devia ter escrito uma nova Constituição, mas não teve sucesso, tal como a actual Assembleia, eleita em 2013.
Mas, para além de tudo isto, o solo do Vale de Katmandu, também torna a zona particularmente vulnerável: é um antigo leito de um lago que, durante um sismo, produz vibrações que se tornam especialmente destrutivas. Há relatos de 1934 de que “ondulava como as ondas do oceano”, diz a revista The Economist.