Menores dizem que directora de lar lhes ficava com ouro e dinheiro
Contas da Santa Casa da Misericórdia de Reguengos de Monsaraz também podem ter sido usadas ilicitamente.
Por seu lado, a directora insistiu que apenas confiscava os bens mais valiosos dos menores, mas não os usava em benefício próprio. As buscas realizadas na semana passada e que visaram instalações do lar da Santa Casa da Misericórdia de Reguengos de Monsaraz, uma clínica privada onde a psicóloga dava consultas e a casa da directora da instituição permitiram encontrar peças de ouro de terceiros na posse da psicóloga, mas o Ministério Público ainda está a recolher mais elementos sobre esta situação.
Também ainda está por esclarecer se a psicóloga – natural da região da Grande Lisboa mas que vive há vários anos no distrito de Évora, onde tirou o curso – utilizou as contas bancárias da Misericórdia de Reguengos de Monsaraz em benefício pessoal, o que a ter acontecido, como indiciam vários elementos recolhidos na investigação, configurará um crime de peculato. Muitos dos factos em investigação pelo Ministério Público de Reguengos de Monsaraz dizem respeito a situações que ocorreram há menos de um ano, apesar do processo também integrar factos com vários anos.
Entre estes conta-se uma relação amorosa que a psicóloga terá mantido durante mais de um ano com um rapaz de 14 anos, que vivia na instituição. A relação terá começado quando a responsável do lar ainda era casada. A directora do lar chegou a passar fins-de-semana com o menor, a inscrevê-lo num curso profissional e a pagar-lhe o aluguer de um quarto fora da instituição. Actualmente o rapaz tem 19 anos e já não se encontra institucionalizado. Em investigação estão igualmente vários crimes de maus-tratos, com os menores a relatarem terem sido fechados numa arrecadação, algemados, e obrigados, por diversas vezes, a ajoelharem-se perante a directora do lar no gabinete desta.
Quando foi ouvida em interrogatório judicial a directora técnica do lar juvenil prestou declarações, tendo afirmado estar a ser vítima de uma conspiração montada dentro da instituição. O PÚBLICO tentou contactar o advogado da psicóloga, mas este não esteve disponível para qualquer comentário.
A directora técnica do lar juvenil está neste momento com uma pulseira electrónica para controlar a proibição de entrar no concelho de Reguengos de Monsaraz, uma das medidas de coacção aplicadas. O Ministério Público tinha pedido a prisão preventiva da psicóloga, mas a juíza de instrução optou por decretar um conjunto de outras medidas menos gravosas.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) confirmou ao PÚBLICO que a arguida está suspensa de funções, proibida de contactar com menores e funcionários do lar juvenil, além de estar proibida de entrar no concelho de Reguengos de Monsaraz. Confirmou igualmente que o inquérito, em que apenas a psicóloga é arguida, teve início em finais de 2011, para investigar determinados factos, os maus-tratos, tendo os relatos das vítimas permitido alargar o âmbito da investigação, que abarca ainda abusos sexuais de menores e peculato.