Marion, a Le Pen que se segue
Católica conservadora, a neta de Jean-Marie Le Pen e sobrinha de Marine representa a terceira geração da família no partido de extrema direita francês. Marion Maréchal-Le Pen tem 25 anos e é deputada pela Frente Nacional desde os 22.
Marion Maréchal-Le Pen está no centro da “guerra familiar” e geracional com que se debate o partido de extrema-direita francês Frente Nacional (FN). Neta do homem que chamou às câmaras de gás da Segunda Guerra Mundial “um detalhe”, Marion representa a terceira geração da família Le Pen. Com 25 anos, aceitou a nomeação do avô, Jean-Marie, e confirmou que será cabeça de lista pela província Provence-Alpes-Côte d’Azur (PACA) nas eleições regionais de Dezembro. “Uma arma de distracção maciça” é como o jornal norte-americano The New York Times (NYT) apelida esta sobrinha de Marine Le Pen, a actual líder da FN.
Esta não é a primeira vez que Marion é notícia. Foi-o em 2012 — e não apenas por ser neta do fundador daquele partido —, quando se tornou no mais jovem membro do parlamento francês. Aos 22 anos assumiu um lugar como deputada pela Frente Nacional, o qual mantém até hoje. Além de integrar a Comissão para os Assuntos Estrangeiros, tem vindo a destacar-se na oposição ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, aproximando-se mais das posições do avô do que das da tia. Católica conservadora, é contra a pena de morte.
Ao aceitar a nomeação de Jean-Marie, de 86 anos, Marion viu-se envolvida no conflito público que pai e filha assumiram recentemente após as polémicas declarações anti-semitas do primeiro à revista de extrema-direita “Rivarol”. O histórico da FN criticou ainda a “desdiabolização” do partido que Marine tem levado a cabo — e que conseguiu mais apoio e votos nos últimos quatro anos para o partido. A filha mais nova de Jean-Marie vetou a candidatura do pai às eleições do final do ano e em cima da mesa estão ainda sanções disciplinares.
“Não sendo eu candidato, só vejo Marion”, afirmou o patriarca Le Pen ao Journal du Dimanche. A neta entra assim no conflito geracional que a FN enfrenta e confirma que vai liderar a lista na região de PACA, no Sul do país, onde, em 2014, Jean-Marie obteve 28% dos votos nas eleições europeias. Em entrevista ao Le Fígaro, a jovem deputada, que estudou Direito e é militante desde os 18 anos, assegura fazer “parte da Frente Nacional de Marine Le Pen” e certifica que, caso seja eleita em Dezembro, abandonará o cargo parlamentar até 2017.
Filha de Yann Le Pen — a segunda das três filhas de Jean-Marie e Pierrette — e de Samuel Maréchal, Marion sempre viveu no meio da política. A mãe está envolvida “nos negócios do partido”, escreve o NYT, e o pai adoptivo liderou a juventude da Frente Nacional nos anos 90. Entre avô e tia, Marion diz-se “na primeira linha pela defesa dos interesses dos franceses”.
No início de Março, a intervenção de Marion na Assembleia Nacional francesa e a reacção do primeiro-ministro, Manuel Valls, tornaram-se virais. A deputada acusou Valls de ter uma “fixação obsessiva” em insultar o seu partido e os eleitores, ao que este respondeu com um discurso que lhe valeu uma ovação de pé de muitos dos parlamentares. “Um verdadeiro perigo para a imagem do meu país e para a nossa democracia” é como o primeiro-ministro vê o crescimento da Frente Nacional, acusando o partido de extrema-direita de incitar ao anti-semitismo, racismo, homofobia e sexismo. “Madame, vou liderar até ao fim uma campanha para a estigmatizar e dizer que não retrata a República ou a França”, terminou Valls.
“Hoje, em França, podes dizer num jantar com amigos ‘Eu voto Frente Nacional’, ao contrário do que acontecia há dez anos”, comentou o analista político Thomas Guénolé ao NYT. A renovação geracional do partido fundado em 1972, com Marion como “trunfo de reserva”, pode provocar uma divisão na Frente Nacional — e na linhagem dinástica Le Pen que a lidera há mais de 40 anos. Será Marion a Le Pen que se segue?