O cartão-de-visita não poderia ter sido melhor escolhido: na capa desta sexta-feira do El Viajero" (e no site), dois turistas admiram o pôr-do-sol com toda a Lisboa à proa a partir daquele que é um dos mais belos miradouros da cidade, o da Senhora do Monte, na Graça.
Uma imagem que sublinha ideias como a de que Lisboa está a “receber a paixão que antes absorveu Berlim, com a queda do Muro, ou Barcelona, quando se levantou como olímpica”. “No caso de Lisboa, o viajante tem dúvidas se está a cair ou se está a levantar-se", escreve-se, mas isso até pode ser uma "maravilhosa incerteza".
Do que tem mesmo certeza o jornalista Javier Martín, que assina o artigo no “El País”, é que a capital “resiste milagrosamente ao transformismo turístico do fim-de-semana, que converteu tantas cidades em parques temáticos”. É que “Lisboa é outra coisa" (precisamente o título de capa da reportagem).
"A Lisboa não se vem ver, vem-se viver", lê-se no artigo de Martín – correspondente em Portugal com anos de experiência –, recheado de elogios e notas espirituosas. Assinalando o crescimento turístico da cidade, escreve-se que "franchisings e cadeias internacionais não puseram fim — ainda — a esta Lisboa de sonho; com o seu comércio à unidade e ao centímetro nem com as suas tabernas, onde a família proprietária se aguenta à frente e atrás do balcão. Aguentam-se porque — salvo incêndios e terramotos — Lisboa aguenta quase tudo".
"Segurança quase absoluta"
Ao longo de três páginas, o jornalista leva-nos a viajar pela cidade, procurando descobrir porque está crescentemente nos tops dos viajantes. Para além de tudo, uma grande mais-valia é a segurança: o viajante pode mover-se "entre uma segurança quase absoluta e a educada paciência dos habitantes" que, "apesar de tanta algaraviada, não se deixou contagiar pelas pressas". É que, constata, "o português é pouco dado a mudanças".
O passeio segue por conversas num dos melhores hostels do mundo, o Home Lisbon, com Paula Oliveira, directora-exectutiva do Turismo de Lisboa, ou com visitantes que acabaram por decidir tornar-se moradores, como Camila Watson, a fotógrafa responsável pela célebre série fotográfica de moradores de Alfama exposta pelas ruas do bairro. Isto, entre apontamentos que vão das igrejas às "santas paredes de Vhils", do "café da esquina e a ginjinha", ao "bife do Snob e o cortejo da Pensão Amor".
Em complemento, a reportagem inclui 30 dicas para outras descobertas da cidade, entre dez locais para melhor admirar as vistas, dez tabernas e, especialmente, "dez sítios incríveis e (quase) sem turistas".
É esta lista que poderá surpreender muita gente, mas não lhe faltam boas ideias. Nela, o jornalista inclui o Ateneu Comercial de Lisboa (nas Portas de Santo Antão), o Jardim Botânico Tropical (no largo dos Jerónimos), a Vila Berta (Graça), Campo de Ourique, a Capela de Santo Amaro (Alcântara), a Praça das Amoreiras (onde se encontra a Mãe d'Água), o Palácio Burnay (Alcântara, a escolha é também muito espanhola, já que foi embaixada de Espanha), o Jardim Bordallo Pinheiro (Campo Grande), o Cemitério dos Ingleses (Estrela) e o Museu Militar (Santa Apolónia).
"Na cidade das sete colinas — 700 imaginará o caminhante"..., escreve Javier Martín, "abundam os anfiteatros". No top 10 de sítios para desfrutar das vistas, o El País inclui o Parque Eduardo VII, a Penha de França, o jardim do Torel, o miradouro da Senhora do Monte, o miradouro de Santa Luzia, São Pedro de Alcântara, Necessidades, Moinhos de Santana (Belém), Rocha do Conde de Óbidos e — um cada vez menos bem guardado segredo —, a varanda da Pollux na Baixa.
Para comidas e bebidas, a lista inclui dez tabernas. "As tascas, extintas em outras capitais, aqui gozam de boa saúde", escreve-se. E em geral "surpreendem pela limpeza e preços". Eis a "lista de ouro" sugerida pelo jornal: Sé da Guarda (Algés), Zé dos Cornos (Rossio-Martim Moniz), Cantinho do Aziz (moçambicano, no Martim Moniz), O Trigueirinho (Mouraria-Castelo), Tasca das Flores (Chiado), Churrasco da Graça, A Provinciana (Rossio), Cantinho da Paz (o clássico indiano da rua da Paz), Reviravolta (ao Campo das Cebolas), Doce Real (Príncipe Real).