Quase metade das intoxicações alimentares aconteceram em escolas
2014 foi o ano com mais pessoas afectadas por toxinfecções alimentares investigadas no Instituto de Saúde Ricardo Jorge.
Nos 25 surtos avaliados no ano passado pelo INSA, foram afectadas 836 pessoas no total e, destas, 111 tiveram mesmo que ser hospitalizadas. Os investigadores conseguiram identificar o agente que causou a intoxicação alimentar em pouco mais de metade dos surtos. Olhando para os dados dos últimos seis anos sobre os episódios avaliados laboratorialmente e com agente causal identificado, 2014 foi o ano com mais registos: em 13 surtos, houve 589 casos de intoxicação e 56 hospitalizações, quando em 2013 foram analisados 183 casos de intoxicação.
Na origem do maior número de casos registados em 2014 esteve uma salada fria de frango desfiado com legumes cozidos e uma salada fria de massinhas com frango desfiado, mas houve outras fontes de contaminação, como uma torta verde de pescada e uma feijoada de javali.
Os investigadores do Departamento de Alimentação e Nutrição do INSA (que desde 1993 reporta dados referentes às toxinfecções alimentares à Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos) não explicam o motivo do elevado número de casos de intoxicação alimentar investigado em 2014. Referem apenas que 11 surtos aconteceram em escolas, quatro em serviços de catering, dois em cantinas de instituições e um durante um piquenique de uma escola.
Nos chamados "surtos domésticos", quatro ocorreram em instituições (três lares e um estabelecimento prisional) e dois em casas particulares. No ano anterior, as cantinas apareciam já em primeiro lugar, num terço dos casos, mas eram seguidas pelos lares particulares, que representavam um quinto das situações..
Como principais factores que explicam a maior parte dos casos observados surgem o tempo e a temperatura inadequados de conservação dos géneros alimentares. Alguns casos ficaram a a dever-se a contaminação cruzada e a arrefecimento incorrecto.
No total, nos ultimos seis anos, o INSA registou 53 surtos com agente identificado, que provocoram mais de 1274 casos de toxinfecções alimentares e 145 hospitalizações.
Os investigadores chamam a atenção para o facto de a falta de informação "diminuir a evidência científica", tal como já tinham feito em 2013. Estes dados representam, de facto, apenas uma parcela da realidade das intoxicações alimentares em Portugal. Ainda assim, os investigadores notam que os dados revelam que “a manutenção dos alimentos a uma temperatura inadequada, associada a um período de tempo favorável ao desenvolvimento microbiano” continuam a ser as causas mais evidentes dos surtos de toxinfecções alimentares. Por isso, insistem, "a disseminação e a aplicação de conhecimentos práticos na área da higiene e segurança alimentar" nos programas de educação para a saúde "é fundamental para a prevenção das doenças de origem alimentar".
Esta quarta-feira o INSA organizou uma conferência sobre segurança alimentar em Lisboa e assinou um protocolo que visa criar um sistema nacional de gestão de dados do controlo oficial de alimentos que sirvará também para harmonizar a comunicação de dados entre Portugal e a a agência europeia.