Paulo Guinote põe fim a um dos blogues mais lidos da educação

Na educação há um consenso entre PSD e PS que torna o debate numa "coreografia do fingimento", desabafa Guinote.

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O blogue que criou catapultou Guinote para o espaço público Cláudia Andrade

Nome: A Educação do Meu Umbigo, criado em 2006 por este professor do 2.º ciclo, primeiro responsável por um fenómeno que atingiu o auge durante os anos de Maria de Lurdes Rodrigues como ministra da Educação – a contestação docente passou também a fazer-se, e muito, nas redes sociais e não só nas manifestações de rua convocadas pelos sindicatos.

Agora, Paulo Guinote cansou-se. “O blogue tal como existiu e é conhecido parou a 25 de Março e à partida não será retomado. No espaço que ocupou permanecerá como ficou”, disse ao PÚBLICO. Com uma fotografia de uma mira técnica, daquelas que antes davam conta de uma avaria na televisão.

Guinote conta que esta era uma decisão que andava a adiar desde Novembro, porque havia sempre mais uma coisa para dar conta e polemizar, como a municipalização da educação que o ocupou nestes últimos tempos de blogosfera. Na quinta-feira o Governo anunciou que estavam concluídas as negociações com 13 municípios para avançar com uma experiência-piloto nesta área. No dia seguinte Guinote pôs ponto final no Umbigo, o nome como era conhecido o seu blogue entre fãs, inimigos e rivais.

Este docente de Português, que se licenciou em História e se doutorou em História da Educação, e que fez há pouco 50 anos, não estabelece uma relação de causa e efeito entre estes dois acontecimentos. Mas entre as razões que aponta para o fim do seu blogue está esta: “Já não existe um espaço para um debate sério e plural. O que se pensa estar a ser debatido afinal já está decidido e existe um consenso que se adivinha para o próximo Governo, seja este do PS ou do PSD”. Decidiu não alinhar mais no que classifica uma “coreografia do fingimento”.

Mas não se fartou apenas dos partidos ou dos sindicatos. Cansou-se também do fosso entre o que se escrevia na blogosfera e o que se fazia nas escolas. “A certa altura comecei a sentir que os professores descarregavam a sua frustração nos comentários que escreviam no Umbigo e noutros blogues e que nas escolas não intervinham”. Chegou à conclusão que o seu blogue “estava a ter efeitos mais negativos do que positivos”, que deixara de “ter espaço para dizer algo de novo e apenas a escrever coisas negativas”. “Não é isso o que quero, nem o que sou. Estava a criar uma caricatura de mim próprio”, comenta.

O blogue que criou catapultou Guinote para o espaço público, com presença assídua nos jornais, televisões, debates e conferências. Agora  diz que encara este ponto final como “uma forma de libertação” ou uma “cura de desintoxicação e fuga da actualidade da educação”. Ou pelo menos “fuga” de diariamente se ter de pronunciar sobre questões que já o aborreciam até porque, diz, “detesta escrever o mesmo muitas vezes”.

Por enquanto diz não ter outros projectos. Continuará a escrever pontualmente para jornais, tem a família e a escola onde é professor e de que também deu testemunho no seu blogue

 

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