Alice Rohrwacher apresenta hoje o País das Maravilhas, no sábado mostra-se o seu Corpo Celeste
A abertura da Festa do Cinema Italiano faz-se hoje, no S. Jorge, em Lisboa, com O País das Maravilhas. A realizadora apadrinhará o lançamento comercial do filme com a sua presença na sessão da noite, amanhã, no Cinema Ideal.
São histórias de famílias, Corpo Celeste (o regresso de uma adolescente à Catânia natal, as dúvidas e os gestos que quer personalizar rodeada por um frenesim religioso que lhe diz que a Igreja é que tem as respostas todas) e O País das Maravilhas (de novo um despertar adolescente, agora na Toscana, o apelo do maravilhoso e a clausura do amor imposta por um pai). E há mais do que uma certa familaridade entre os dois filmes. Vai reparar-se como começam da mesma forma - é noite, as luzes iluminam aquelas que hão-de ser as personagens da ficção -, colocando no espectador o sentimento exaltante de uma descoberta, os vestígios da presença humana nos lugares, mas também um sentimento de angústia: a descoberta vai inevitavelmente (voltar a) desaparecer.
Alice, 32 anos, uma ex-estudante de Grego Clássico, que parou de fugir do cinema (como confessou numa entrevista ao Ípsilon, edição de dia 20) quando frequentou um curso de documentário na Videoteca Municipal de Lisboa, abeira-se da ficção sem abdicar de protocolos de delicadeza: devolver a descoberta ao seu habitat. Na entrevista ao Ípsilon dizia: "O meu grande desejo era contar a história de um lugar que resiste aos humanos: não obstante os humanos, os lugares existem antes deles e continuará a existir depois deles. Mesmo que transformados, às vezes, pelas exigências, pelas necessidades dos que o habitaram, pelas mãos dos que o habitaram, eles continuam." E ainda: "Quando entramos dentro de uma história há sempre uma dose de violência, somos sempre caçadores que apontamos com as luzes para lugares onde estão fantasmas e com essa luz trazemo-los à vida – embora nunca o consigamos, na verdade. Quis fazer isto de forma gentil, não intelectual. Queria chegar a isto com simplicidade, para que a emoção não fosse cortada."
Na sessão de quinta-feira no Ideal, Alice estará acompanhada pela irmã, Alba Rohrwacher, actriz. É a intérprete principal de O Pais das Maravilhas (Alba estará também em Lisboa para apresentar na Festa do Cinema Italiano Hungry Hearts, de Saverio Constanzo - dia 27, 21h30, S. Jorge). Assunto de família, de novo: o filme foi escrito a partir de memórias de infância de Alice e Alba na Umbria italiana, ao lado da Toscana onde O País das Maravilhas acabou por ser rodado; e as duas são filhas, como no filme, de uma família de apicultores, mas insistem que a componente autobiográfica se dilui perante a fantasia da memória.
Mais maravilhas italianas para este fim de semana: o início da retrospectiva dedicada a Sergio Leone, com o Director's Cut de Era Uma Vez na América (dia 28, S. Jorge, 15h) e com O Bom, o Mau e o Vilão (1 de Abril, 21h, S. Jorge), ciclo que depois prossegue na Cinemateca Portuguesa em Abril; dia 26, às 21h30, no S. Jorge, começam os primeiros episódios de Gomorra - A série (serão cinco sessões, cada uma delas com 2 episódios). O programa completo está em http://www.festadocinemaitaliano.com/