Passos Coelho admite que médicos se formem no privado
Sobre o medicamento contra a hepatite C, primeiro-ministro disse que Estados devem “fazer tudo o que está ao seu alcance para salvar vidas humanas” mas não a qualquer preço.
Sem o ministro da Saúde (cuja presença estava prevista, mas que acabou por não aparecer) e na ausência de outros responsáveis nacionais do sector, Passos Coelho admitiu que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) enfrenta “dificuldades em ter recursos humanos”, nomeadamente na área médica, mas defendeu que isto não acontece “por falta de dinheiro”. Voltou a afirmar, a propósito, como já tinha feito no Parlamento, que o seu Governo transferiu para a saúde e para o SNS “financiamentos nunca [antes] transferidos em Portugal”. “Que fique bem registado: não foi por falta de dinheiro que os hospitais evidenciaram, num ou noutro caso, menos recursos médicos do que aqueles que eram necessários”.
Respondia assim ao presidente da Câmara de Santa Maria da Feira, que antes dele tinha lamentado que o Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga (a que pertence o hospital da Feira, em cujo serviço de urgência um homem de 57 anos morreu depois de ter alegadamente aguardado cerca de cinco horas por atendimento médico) enfrente um problema de “grave escassez de recursos humanos não resolvidos por razões burocráticas”. “O sector da saúde não pode estar sujeito às mesmas regras que os outros [sectores]", reclamou o autarca.
Sobre a sua presença na inauguração do “Lenitudes Medical Centre & Research”, que representou um investimento de 20 milhões de euros, o primeiro-ministro disse que é preciso encarar como “bem vindo” todo o investimento privado. “Muitas vezes há a tentação de pensar que o privado só tem lugar onde o Estado está a falhar. Não é assim”, sublinhou, destacando ainda o facto de “a oncologia não [ser] uma área em que, por tradição, a oferta privada se tenha vindo a organizar”.
Antes desta visita, questionado pelos jornalistas sobre o assunto que marcou o dia – o caso de uma doente com hepatite C que morreu em Lisboa sem ter tido acesso a um medicamento inovador –, apesar de considerar “realmente preocupante” o problema do acesso aos fármacos contra esta doença, Passos Coelho defendeu que os Estados devem “fazer tudo o que está ao seu alcance para salvar vidas humanas” mas não a qualquer preço, “custe o que custar”. E considerou, citado pela Lusa, que o preço que está a ser pedido pelo laboratório com a patente do fármaco em questão “não é adequado”.
Sobre esta matéria, explicou ainda que o Estado português tem vindo “a concertar uma estratégia de modo a poder aceder a esses medicamentos mais inovadores a custos que sejam suportáveis”, em conjunto com outros países europeus. Mas não esclareceu para quando está prevista uma solução, sublinhando que isso não depende apenas do Governo.
Quis também deixar claro que discorda da forma como as perguntas [sobre o preço da vida humana] são feitas. Porquê? Porque apenas “podem ter um propósito que é o de entender que qualquer que seja o custo de qualquer coisa, ele tem que ser suportado não importa o quê, e todas as pessoas sabem que não é assim”, disse.
Situado ao pé do Europarque, num edifício com cerca de seis mil metros quadrados, o centro Lenitudes dispõe de vários “núcleos de actuação”, como a medicina nuclear e molecular, a imagiologia, radioterapia, cirurgia e oncologia médica. Pertence a uma holding cujo chairmain é o socialista Francisco Murteira Nabo.