Jordânia enforca dois jihadistas e promete “luta implacável” contra radicais

Principal instituição do islão sunita, a Al-Azhar, do Cairo, defende que se “mate e crucifique” os membros do Estado Islâmico. Emirados Árabes Unidos suspendem operações aéreas na Síria e no Iraque.

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Sajida al-Rishawi, a mulher iraquiana de 35 anos, executada pela Jordânia. Aqui numa foto de 2006 REUTERS/Majed Jaber

A execução dos dois condenados – Karboli foi acusado de conspirar para atacar interesses jordanos e de ser um dos autores do plano dos atentados contra hotéis de Amã que fizeram 60 mortos em 2005; Rishawi foi a única dos quatro bombistas suicidas cujos explosivos não deflagraram – não fez abrandar os apelos de vingança.

“Peço que nenhum deles permaneça vivo. Peço uma vingança maior do que a execução dos prisioneiros. Exijo que o ISIS [como também é conhecido o Estado Islâmico] seja aniquilado”, pediu o pai do piloto, Safi al-Kasasbeh, ouvido pela Al-Jazira. A família pertence a uma tribo que é uma aliada influente do Governo. “Esta organização assassina, formada por militantes de todos os países do mundo, age de uma forma bárbara, violando todas as leis internacionais, todos os códigos de ética e convenções sobre prisioneiros. Por isso pedidos ao Governo para vingar o sangue de Moaz e a dignidade do nosso país.”<_o3a_p>

O xeque Ahmed al-Tayeb, grande imã da Al-Azhar, a mais importante instituição do islão sunita, “condenou vivamente” o assassínio do piloto jordano, “um acto terrorista vil que merece a punição mais severa prevista no Corão: a morte, por crucificação, ou a amputação de mãos e pés”, descrevendo o Estado Islâmico como um grupo “satânico”. Vários líderes religiosos muçulmanos condenaram a morte do piloto como “anti-islâmico”. <_o3a_p>

“Isto enfraquece a popularidade do Estado Islâmico”, disse o salafista radical jordano Aby Sayaf. “Mesmo no calor da batalha, um prisioneiro de guerra é bem tratado. Se o Estado Islâmico diz que Moaz nos bombardeou, matou e incendiou e nós o punimos da mesma forma, ok, mas porquê filmá-lo desta forma chocante?”.<_o3a_p>

Aumentar o horror
A ideia será aterrorizar as opiniões públicas dos países que ousaram combater o Estado Islâmico, que começou por usar o choque para atrair a resposta internacional que lhe deu o reconhecimento desejado. “Trata-se de uma oportunidade enorme para o Estado Islâmico provocar um sofrimento máximo à coligação, nomeadamente aos países muçulmanos que ajudam os EUA”, diz à AFP Hassan Hassan, investigador do Instituto Delta, em Abu Dhabi. Para Romain Caillet, especialista em movimentos jihadistas, isto é o grupo a dizer “à coligação: os vossos homens acabarão em vídeos ainda mais atrozes, que traumatizarão as vossas opiniões públicas”.<_o3a_p>

Como se as decapitações já estivessem banalizadas – e houve dois japoneses decapitados nos últimos dez dias –, agora queimam-se reféns vivos. Ao longo de todo o vídeo, os jihadistas tentam estabelecer um paralelo com as acções dos que os atacam, mostrando imagens de edifícios atingidos por mísseis e das alegadas vítimas, incluindo crianças, por vezes carbonizadas debaixo de escombros. <_o3a_p>

O vídeo de mais de 22 minutos, ao longo dos quais o piloto descreve as operações em que esteve envolvido e fala de outros países da região que participam, começa com o rei jordano a explicar que só quis voluntários para esta missão – “Todos os pilotos jordanos levantaram a mão e se oferecem”, afirma Abdullah, numa entrevista em inglês. No fim, depois de Moaz, regado com gasolina, ser incendiado, surgem fotografias de 12 oficiais jordanos supostamente envolvidos nos ataques na Síria e no Iraque, ao lado das suas moradas ou das bases onde estarão mobilizados. Pela morte de cada um oferecem-se 100 dinares de ouro, cerca de 18 mil euros.<_o3a_p>

Consequências a prazo
Moaz al-Kasasbeh, 26 anos, estava nas mãos de jihadistas na Síria desde 24 de Dezembro, quando o F-16 que pilotava num ataque contra posições dos radicais se despenhou em Raqqa, no Norte do país. A Jordânia é um dos países árabes a integrar a coligação formada e liderada pelos Estados Unidos desde Agosto, em resposta precisamente à decapitação de reféns estrangeiros (jornalistas e trabalhadores humanitários norte-americanos e britânicos). É um aliado precioso para Washington e o único dos países envolvidos com fronteira com os dois países onde o Estado Islâmico controla território, a Síria, a norte, e o Iraque, a leste.<_o3a_p>

Não foi o país mais fácil de convencer. Os jordanos já apoiam rebeldes sírios contra Bashar al-Assad, numa estratégia para tentar impedir os combates de entrarem pelo seu território. Também é dos países mais afectados pela crise de refugiados, acolhendo perto de 650 mil sírios. Agora, a Jordânia garante que vai aumentar a sua participação na luta. “Estamos a falar de um esforço para intensificar os combates e travar o extremismo e o terrorismo, minar, diminuir e finalmente acabar com o Daash”, como o Estado Islâmico é chamado no mundo árabe, afirmou o ministro da Informação e porta-voz do Governo, Mohammad al-Momani. “Estamos nesta guerra para proteger a nossa fé, os nossos valores e princípios e esta batalha será implacável e vai atingi-los onde ele estão”, disse o rei.<_o3a_p>

Para já, o choque provocado pela morte do piloto uniu os jordanos e fez desta uma guerra sua, quando poucos se queriam ver envolvidos no início. Abdullah estava em Washington, para discutir a renovação da assistência norte-americana quando recebeu as notícias, na terça-feira. Responsáveis citados pelo Washington Post dizem que essa ajuda passará de 660 milhões de dólares (580 milhões de euros) anuais para mil milhões.

O vídeo em que Moaz é queimado vivo trouxe já um revés à coligação e aos EUA: os Emirados Árabes Unidos, o país árabe mais activo nos bombardeamentos, suspenderam os ataques até terem garantias de que há planos para activar de imediato tentativas de resgate caso outros pilotos sejam capturados. Washington diz que desta vez não houve tempo – os jihadistas “apoderam-se” de Kasasbeh “em poucos minutos” mas os líderes da federação querem melhorar os esforços de resgate, transferindo algumas operações do Kuwait para o Norte do Iraque.<_o3a_p>

Moaz é o único militar da coligação que se sabe ter sido feito refém pelo Daash. Nas mãos dos radicais permanece um número desconhecido de civis, incluindo pelo menos o jornalista britânico John Cantlie, que o grupo transformou numa espécie de repórter das suas operações, e uma mulher norte-americana que a Casa Branca admitiu estar a tentar resgatar.
 

   

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