A discoteca Green Hill, que marcou gerações, é hoje uma autêntica ruína
Até de Lisboa saíam carros e motos rumo ao Green Hill. Fazia parte da romaria dos anos 80, que não tinha medo dos quilómetros até às discotecas - nem dos balões da GNR. Hoje não passa de um esqueleto de betão.
Mas hoje é uma exposta ruína, um edifício para o qual se entra sem qualquer protecção e do qual já não resta um único fio de cobre ou quadro eléctrico. Toda a estrutura tem infiltrações, o betão está a estalar, restam poucas portas e janelas, e o interior é uma montanha de lixo, no qual se amontoam mesas, cadeiras, restos dos bares e objectos de decoração.
Nas pistas de dança amontoam-se os pedaços que caem do tecto e nos bares os vidros estão partidos. Ninguém imaginaria que este foi um dos locais da noite mais conhecidos do país.
Porque é que o Green Hill morreu? Eis uma explicação empresarial: desde 2012 que a proprietária da discoteca, Filomena Félix, concessionara o espaço ao empresário Paulo Conde que o explorou durante um ano. Contudo as receitas eram escassas e o Green Hill já acusava o peso da idade, com custos de manutenção que não eram possíveis de suportar. A discoteca tinha crescido somando anexos a anexos e o resultado foi um edifício pouco harmonioso, mas sobretudo com obras feitas de improviso e com partes que não foram devidamente licenciadas.
A proprietária da discoteca diz que não recebia a renda do seu concessionário e este, por sua vez, diz que Filomena Félix não pagava a renda aos donos do terreno onde esta funcionava. Em Abril de 2013 o Green Hill abriu ao público pela última vez e não mais se voltou a dançar nas suas pistas.
Mas há também uma possível explicação jurídica. A firma Félix & Romão, Lda. está insolvente. Desde 2009 deram entrada em tribunal cerca de 30 acções judiciais que reclamam créditos no valor de 289 mil euros, havendo já quatro processos de execução a decorrer no valor de 15 mil euros.
Uma outra resposta pode ser económico-social. A crise fez mossa no negócio da noite. A própria Foz do Arelho - que nos anos 80 e 90 era também conhecida pelo Solar da Paz - perdeu uma série de bares-discotecas. Os mais jovens não têm dinheiro e não podem pagar as bebidas nos balcões destes estabelecimentos. Daí que as festas das aldeias sejam hoje novamente procuradas pela juventude, sobretudo nas noites de Verão. Um dia os sociólogos estudarão este fenómeno. Até há uns anos as festas de aldeia definhavam ou subsistiam pela inércia da tradição, mas agora passaram a estar na moda e até se adaptaram com DJs a actuarem pela madrugada dentro. E não é displicente, claro, que as bebidas aí sejam mais baratas, para uma geração que não tem o poder de compra que os seus pais tinham na sua idade.
Em declarações à Gazeta das Caldas, em Novembro de 2013, Filomena Félix dizia que o único activo do Green Hill era o seu próprio nome, que não poderia ser utilizado por mais ninguém por se encontrar registado. Situação que é negada pela advogada Dulce Carneiro, que representa os interesses do proprietário do terreno, que diz que não é impossível que a discoteca volte a abrir desde que haja um interessado. Mas tendo em conta o estado do edifício, o investimento deveria ser idêntico ou superior ao de uma construção feita de raiz.
Foi em 1980 que o Green Hill abriu portas, num sítio ermo, no meio de umas fazendas, mas numa colina perto do mar. Filomena Félix e Luís Romão investiram na altura dois mil contos (10 mil euros) num projecto que viria a ser um sucesso. O casal teve um filho, Ricardo Romão, que após o divórcio dos pais, viria a gerir com a mãe o estabelecimento, tendo sido também DJ na própria discoteca.
O episódio mais trágico desta história ocorreu numa madrugada de Setembro de 1996 quando Luís Romão foi baleado num assalto junto à sua residência ao regressardo do Green Hill com as receitas da noite, tendo ficado incapacitado. Foi depois disso que foi criada a sociedade Félix & Romão, Lda.
Filomena Félix costuma dizer que durante 30 anos só houve um fim-de-semana em que a discoteca não abriu (em 2000 devido a obras de remodelação). E que pelas suas pistas de dança passaram avós, pais e netos.
O Green Hill foi um estabelecimento ícone que é hoje citado frequentemente nas redes sociais, sobretudo nos blogues nostálgicos dos anos 80 e 90.