“Tempo de Avançar” quer passar “do contra ao como fazer”
O Livre serve de plataforma eleitoral a um movimento que quer contribuir para um Governo de coligação à esquerda. No próximo fim-de-semana, reúne-se a Convenção que lança este projecto.
Isto além de diversos cidadãos independentes, independentes que há muito estavam afastados da política, bem como inúmeras pessoas que intervêm pela primeira vez, com uma forte presença de portugueses emigrados.
Qual o modo como a Tempo de Avançar se propõe fazer a diferença na governação do país só mais para o Verão se saberá, quando estiver terminado o processo de elaboração do programa eleitoral que arranca no dia 31 de Janeiro, o próximo domingo, na primeira Convenção Tempo de Avançar. Uma reunião em que se anuncia a presença de vários independentes de esquerda, como Julio Machado Vaz, mas de fora da qual estarão Joana Amaral Dias e Nuno Ramos da Almeida que entretanto procuraram lançar um outro movimento, o Junto Podemos, mas que já se desvincularam dele por divergência com o partido MAS, de Gil Garcia,
A Convenção da Candidatura Cidadã Tempo de Avançar será assim um novo patamar do processo aberto à convergência de esquerda lançado pelo Livre, depois de nas eleições europeias de 25 de Maio de 2014 este ter obtido mais de 70 mil votos – um resultado que, se se repetir em legislativas, lhe permitirá eleger dois deputados em Lisboa e ficar à beira de eleger um no Porto. E é sem falsa humildade que Rui Tavares assume que a Candidatura Cidadão Tempo de Avançar pode chegar aos cinco eleitos nas legislativas deste ano.
O arco constitucional
O objectivo é “aumentar o arco constitucional para que este se sobreponha ao arco governativo” e os partidos de esquerda influenciem e exerçam a governação, afirma Rui Tavares. “Nessa passagem do contra ao como fazer, assumimos as nossas responsabilidades, tal como deve ser feito também pelo PCP, BE e PS”, sublinha o antigo eurodeputado independente que rompeu com o BE em 2011.
Para Rui Tavares, “a equação é fácil de entender: quantos mais elementos se juntarem à esquerda para influenciar uma governação de esquerda, mais resultados essa influencia terá”. Daí que defenda que “todas as forças que têm assumido posições contra as políticas de austeridade se devem unir e encontrar uma governação alternativa”.
Rui Tavares lembra que “há um tabu que tem feito pagar um preço caro em Portugal” e faz o retrato da “situação em que há uma esquerda que só pensa em vir para o Governo e outra que só pensa em não estar no Governo”. Logo, diz, “o que acontece é que a direita acaba por ir para o Governo”. O que está na origem de um “desequilíbrio do sistema político português”.
Para quebrar esse desequilíbrio, “pela primeira vez, o Livre dispôs-se a participar e a estar ao lado de movimentos de cidadãos de um modo que não é tradicional”, salienta Ana Drago, antiga dirigente e deputada do BE, que integra a Associação Fórum Manifesto. “Ao contrário de pendurar independentes na lapela do partido”, o Livre aceitou “construir, com outros, uma candidatura cidadã”, afirma Ana Drago, considerando que o projecto comum que a junta a Rui Tavares e a muitos outros “não é só para construir mais um grupo parlamentar, embora seja preciso também ter um grupo parlamentar”. Mas a dirigente do Fórum Manifesto assume que “é preciso influenciar, pressionar e alterar a governação”.
Política é governar
Refutando as críticas de que, afinal, o que querem é ir para o Governo, sem hesitação Ana Drago afirma que “o Manifesto tem como objectivo alterar a política, por isso tem vocação de governo”. Isto, porque “a política não é só para dizer coisas certas, é para alterar as vidas das pessoas”.
Ana Drago considera que “um dos problemas da democracia portuguesa é que há um bloqueio democrático” E explica que, na sua opinião, este “bloqueio advém de haver uma maioria de direita com um Presidente de direita”, uma associação que “criou uma dificuldade de contestação, maioria na sociedade que só foi travada pelo 15 de Setembro [de 2012] contra a TSU ou então pelos vetos do Tribunal Constitucional”.
Mas prossegue salientando que “há um outro bloqueio que está na esquerda”. E concretiza: “Temos o BE e o PCP que contestam, mas não estão disponíveis para governar, nem mesmo para governar de forma diferente, e temos os partidos do arco do Governo que não querem falar do que se vai passar.”
A antiga deputada à Assembleia da República considera que é preciso uma força política capaz de “dizer ao país as dificuldades” por que vai passar e “o que vai ser preciso fazer, sem pôr em causa a defesa da democracia”. Essa força política precisa, assim, de estar “disponível para fazer diferente e fazê-lo em diálogo com o PS, o PCP e o BE”. Sem preconceitos em relação ao exercício do poder, Ana Drago afirma: “Participar num Governo não é tabu, agora têm de ser encontrados compromissos sobre o que é fundamental.”
Considera mesmo que esse é o desafio e “a responsabilidade que o país coloca” e que os políticos de esquerda têm de estar à altura da situação”. Sem hesitação, Ana Drago conclui: “É preciso que haja um mandato disponível para correr o risco. Não estamos em 1974, não se conquista facilmente o que for perdido agora em termos de Estado Social, de relações de solidariedade intergeracionais e de classe, de combate ao desemprego e de modelo de desenvolvimento.” E em jeito de desafio, afirma: “Nenhuma força à esquerda pode deixar de defender este património que é preciso defender - a União Europeia e a democracia. Assim como é preciso começar a colocar as pedras que conduzam a outro modelo.”