Poder-se-á dizer, com razoável aceitação por parte de todos, que a crise que vivemos nos últimos anos contribuiu para o alargamento das desigualdades na distribuição dos rendimentos. Hoje, e num reflexo evidente dos últimos anos, verificamos que a concentração de capital por parte dos mais ricos aumentou, ao mesmo tempo que assistimos a uma massificação da pobreza e da exclusão social.
Hoje, caminhamos na direcção de que 1% dos mais ricos tenha mais rendimento do que toda a população mundial. Quem o refere é a organização não-governamental Oxfam num estudo intitulado “Ter Tudo e Querer Mais”.
É alarmante constatar este número. Afinal quanto vale 1%?
Este é o reflexo de uma sociedade desregulada, voltada para si mesma e que perdeu a noção dos valores civilizacionais que devem nortear a actividade Humana. Se continuarmos a achar normal que coexista no mesmo período de tempo um aumento da taxa de pobreza e aumento do capital da população mais rica, se continuarmos a olhar impávidos e serenos para o crescimento do fosso entre quem mais tem mais e a aqueles que menos podem suportar, se continuarmos a achar que o mercado está a funcionar normalmente e que não precisa de regulação, então, continuamos a achar normal que 1% valha tanto como 99% no que à distribuição da riqueza diz respeito.
Esta é a questão-chave neste momento. Devemos ser capazes de exigir uma justa distribuição da riqueza, que se consegue pela justa valorização do fator trabalho face ao capital. Mas que se consegue, também, com mais e melhor Estado na economia, capaz de regular e de dinamizar o investimento.
Mais Estado significa defender empresas/sectores chave, como é o caso da energia, da água ou até mesmo, no cenário português, a TAP.
Mudar 1% significa mudar também a política europeia e, essencialmente, a visão de quem nos lidera.
No dia em que um alto comissário europeu seja capaz de abordar este tema com o mesmo patamar de complexidade com que alarmantemente tratam as eleições na Grécia, então nesse dia irei-me sentir um cidadão europeu de pleno direito.
Aqueles que hoje procuram condicionar umas eleições internas de um Estado democrático, deveriam ter bem presentes, até pelas responsabilidades que desempenham, que não se fazem democracias com 80 ou 99% de liberdade de escolha ou com chantagem de um cataclismo apoteótico. Esse é o caminho da ditadura e que só se combate com a esperança, a paz social, o emprego e a dignidade. Quem retirou os sonhos aos Gregos não queira hoje condicionar quem, em alternativa, lhes quer dar esperança. A esperança que 1% não represente mais que 99%.