Portugal é um país onde a sinistralidade rodoviária é alta e onde existem maus hábitos de condução: muitos condutores fazem das estradas pistas de competição, outros guiam sob o efeito de álcool ou outras drogas e há ainda as manobras perigosas perpetradas pelos aselhas. Enfim, é um problema que está ligado ao baixo civismo dos portugueses (ainda fruto da sua pobreza e pouco tempo de democracia) e ao desprezo pela lei que muitos exibem.
Por tudo isso, a prevenção rodoviária é uma área fundamental de actuação das autoridades.
Ao longo dos anos, tem sido possível ir diminuindo o número de vítimas dos acidentes rodoviários, graças a uma multiplicidade de factores: melhores carros, melhores estradas, melhores condutores e maior fiscalização.
Porém, nem tudo é bom nesta história. É que, por vezes, a falta de civismo também se verifica nas autoridades. São ainda demais as vezes em que as polícias rodoviárias demonstram não estar à altura da sua função. O caso paradigmático é a estratégia da “caça à multa”.
Em Portugal, acredito que quase toda a gente já deve ter passado pela experiência de ser apanhado em excesso de velocidade nas situações mais inusitadas. Naquelas estradas onde se sabe que mais facilmente os limites de velocidade serão, inadvertidamente, quebrados (não por especial perigosidade mas porque as estradas são boas, não há muito trânsito e, tantas vezes, são a descer), aí aparecem as autoridades, plantadas num esconderijo, para “caçar a multa”.
Estiveram a fazer prevenção, estiveram a fazer pedagogia, estiveram a evitar que acidentes graves se dessem? Não, estiveram apenas a encher o pecúlio estatal. Quais pescadores de tainhas junto ao esgoto, estão, nessas ocasiões, a ter uma postura incorreta. O objectivo das forças de autoridade rodoviária devia ser a diminuição da sinistralidade e a manutenção de um fluxo de trânsito sem percalços. Não a recolha de receitas para o Estado.
Sou favorável a políticas de prevenção eficazes. Mas essas passam muito mais pela utilização de semáforos controladores da velocidade, ou radares e policiamento visíveis, do que pela insidiosa “caça à multa”. Afinal o objectivo não é “apanhar” muitos infractores, é fazer com que as infracções não ocorram! Penso, também, que se devia debater a questão dos limites de velocidade sem tabus. Afinal, qual o sentido de ser 50km/h o limite dentro das localidades? Quantas estradas não permitem já andar a mais do que isso sem que esteja em causa a segurança rodoviária? Nas autoestradas, o mesmo: porque não ter diferentes velocidades máximas em função do troço em questão ou das condições do tráfego?
Enfim, penso que a evolução nos comportamentos se devia dar nas duas direcções: cidadãos mais conscienciosos e responsáveis, autoridades mais pedagógicas, preventivas e formadoras. Talvez assim, os maus hábitos do passado (como a condução irresponsável ou a insidiosa “caça à multa”) comecem a desaparecer.