Canis lupus familiaris é o nome científico do cão, o lobo que se deixou domesticar pelos humanos há milhares de anos, provavelmente o primeiro animal a estabelecer tal relação com o ser humano.
Aquilo que começou por ser uma estratégia de parasitismo (dos lobos mais mansos que vinham comer os restos deixados no lixo das pequenas comunidades humanas), acabou por se consubstanciar numa feliz simbiose entre animais: os humanos dão comida e conforto, os cães dão fidelidade, ternura, companhia e, muitas vezes, ajuda no trabalho.
Os cães fazem parte das nossas vidas. Mesmo que não tenhamos um em nossa casa, os cães estão à nossa volta: na casa de familiares ou amigos, na televisão e no cinema, na banda desenhada, na literatura, na música. Ou, infelizmente, abandonados na rua.
A verdade é que os cães coabitam connosco de uma forma tão natural que raramente paramos para pensar o quão incrível é essa convivência.
Por vezes, dou por mim a olhar para os cães e a pensar o quão espantoso é que eles estejam tão próximos de nós e que se comportem de forma tão adequada. Nas casas dos donos, de férias com eles, durante os passeios (nas ruas, nos parques, nas parias), nas esplanadas ou nas brincadeiras para as quais estão sempre dispostos, os cães bem-educados exibem um comportamento fascinante.
E o mesmo se poderá dizer dos cães de trabalho que descobrem droga, que encontram pessoas nos escombros, que arrastam trenós, que coordenam rebanhos ou que exibem uma elevada capacidade de defesa de pessoas e territórios e que cumprem essas tarefas com uma eficácia e disciplina admiráveis.
Sei que há outros animais domesticados mas não creio haver nenhum que exiba tal grau de comunicação e entendimento como o cão (não, não me interessa entrar na estéril discussão cães vs. gatos). Aqui, a comunicação faz-se pelo abanar da cauda, pelo agitar do corpo, pelas patas que nos tocam a pedir algo, pelo ladrar ou pelo olhar atento, focado e, tantas vezes, terno. Sim, há qualquer coisa de profundamente expressivo no olhar dos cães. Não sei se é transferência nossa, mas parece que eles transmitem as suas emoções pelo olhar.
Eu estou à vontade para falar. Em pequeno tinha medo de cães. E só o facto de ter tido uma cadela, quando tinha doze anos (e que viveu 18 anos), me fez perceber melhor o comportamento deles e refrear o meu medo. Não sou um fanático pelos cães nem os acho superiores ao ser humano. Mas fascina-me o seu comportamento adequado e adaptado às nossas regras e a ligação que estabelecem connosco.
Enfim, sobre os cães muito se pode dizer e já muito se disse: que são o nosso melhor amigo, os companheiros mais fiéis, que ajudam no desenvolvimento das crianças e dos deficientes, que sentem as nossas maleitas e entristecem connosco, que morrem de saudades ou que chegam a ser heróis que salvam vidas. Mas não conheço ninguém que tenha expressado tudo isso melhor do que Manuel Alegre quando nos ensinou (com a sabedoria dos poetas) que, afinal, eles são cães como nós…