Há 18 anos que o Ciberdúvidas ensina o verbo “haver”

Portal promove a língua portuguesa, já redigiu mais de 40 mil textos e vive crise de financiamento.

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O que diferencia este portal de outros de consulta da língua decorre em grande medida desse facto. “Pela nossa formação, sempre quisemos trazer para a discussão textos, temas e palavras da actualidade”, diz ao PÚBLICO José Mário Costa. No entanto, há dúvidas alheias ao universo noticioso que sempre se repetem, como “concordâncias verbais com o verbo ‘haver’ – um ‘alçapão’ recorrentemente assinalado na rubrica Pelourinho (registos críticos de maus usos da língua no espaço público)”.

Por estes dias, atento à actualidade, o Ciberdúvidas integrou no seu portal a discussão à volta do uso da forma “cartoonista” ou “cartunista”, preferindo esta última. Justificação: “(…) no português, as palavras derivadas de empréstimos que são substantivos comuns não costumam conservar as grafias características das línguas de origem.”

Respostas de segunda a sexta-feira
Em nota enviada à redacção, o Ciberdúvidas dá conta de que o seu consultório linguístico, uma das 13 rubricas do portal, “responde, de segunda a sexta-feira, a dúvidas chegadas dos mais variados pontos do mundo, sobre ortografia, fonética, etimologia, sintaxe, semântica ou pragmática – tendo sempre em conta as particularidades linguísticas regionais e nacionais que moldam, hoje, a sexta língua mais falada no mundo”.

Lembra ainda que, “18 anos depois, continua a não existir outro serviço com as características do Ciberdúvidas: público e universal, simultaneamente noticioso, de esclarecimento, de reflexão e de polémica sobre o idioma comum de oito povos da CPLP, com diferentes histórias e distribuídos por diferentes espaços geográficos”.

Os principais utilizadores do portal são jornalistas, publicitários, informáticos, economistas, médicos, arquitectos, juristas, professores e alunos de vários níveis de ensino.

De 50 colaboradores a cinco
O também autor e promotor de programas de televisão como Cuidado com a Língua! (RTP), O Jogo da Língua (Antena 1) e Páginas de Português (Antena 2) diz que o aniversário acontece com “dificuldades” e “sobressaltos de percurso, relacionados com o financiamento de um projecto desta natureza”. Recorda que os colaboradores “chegaram à meia centena, embora não mais de 20 respondiam regularmente”. Os restantes eram consultores a quem se recorria para um ou outro parecer, como ainda hoje acontece. Actualmente, apenas cinco continuam a responder com regularidade, em função da sua especialização, mas pro bono. “Deixámos de poder remunerá-los.”

Contam com a colaboração de Carlos Rocha, professor destacado pelo Ministério da Educação, que assegura “o trabalho de edição executiva do consultório” e também responde às perguntas que vão chegando.

Os apoios actuais são da Câmara Municipal de Lisboa, “que cedeu um espaço onde o Ciberdúvidas pôde alojar a sua já vasta biblioteca de trabalho” e também dos donativos recolhidos através da campanha SOS Ciberdúvidas, uma iniciativa “dos consulentes mais dedicados”.

Glicemia ou glícémia?
Pedimos ao também fundador do PÚBLICO e redactor do seu Livro de Estilo (edição de 1998) o registo da primeira pergunta recebida pelo Ciberdúvidas. Foram várias numa só: “Glicemia ou glicémia?/ Acromegália ou acromegalia?/ Leucémia ou leucemia?/ Triglicéridos ou triglicerídeos?// Sobre enzimas: como acentuar? Ex: transaminase ou transamínase?/ Peptidase ou peptídase?/ Oxidase ou oxídase?”

A mais recente, no momento da conversa com o PÚBLICO (dia 13), era: “Qual o género gramatical do termo ‘relé’”? Resumo da resposta n.º 32.950: “Com o significado de ‘electroíman que trabalha com corrente fraca e funciona como interruptor intercalado num circuito local e comandado à distância (dicionário da Academia das Ciências de Lisboa), é um substantivo do género masculino. (…) As fontes consultadas também registam relé no género feminino, mas trata-se de uma variante de ralé, ‘gente considerada de baixa condição moral, cultural e social’ (Dicionário Priberam).”

O Ciberdúvidas está associado à Rádio Nacional de Angola, com um apontamento diário (Mambos da Língua – “o-tu-cá-tu-lá do português de Angola”), e ao projecto da Ciberescola da Língua Portuguesa, com acesso gratuito e dirigido a alunos e professores dos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico e secundário.

Uma parceria com o ISCTE irá permitir melhorar a consulta do portal, “com um arquivo de mais de 40 mil conteúdos”, que integram “opinião pura, informação, polémica, fonética, acordo ortográfico, etc”. Nas palavras de José Mário Costa, “o Ciberdúvidas apoia-se nos dicionários mas vai sempre mais além”.

Ciberdúvidas:  http://ciberduvidas.pt/index.php

Resposta à pergunta n.1: http://www.ciberduvidas.com/pergunta.php?id=1

Resposta à pergunta n.º 32.950: http://ciberduvidas.pt/pergunta.php?id=32950

Ciberescola da Língua Portuguesa http://www.ciberescola.com/

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