Mulheres ganham importância nas empresas, mas não chegam ao topo

Portugal aparece num relatório da OIT no 40.º lugar em 108 países com 34,6% dos lugares de gestão ocupados por mulheres.

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Paulo Pimenta / Arquivo

O relatório Women in Business and Management — Gaining Momentum parte de uma sondagem a 1200 empresas de 39 países em desenvolvimento que mostra que em 30% das empresas não existia nenhuma mulher nas equipas directivas e que em 65%, as trabalhadoras representavam menos de 30% dos cargos de chefia (a OIT considera que os 30% é o valor mínimo necessário para que as opiniões das mulheres sejam tidas em conta na gestão das empresas). Mas a OIT vai mais longe e compila uma série de dados recentes (Junho de 2014) para 108 países que fazem parte da sua base de dados. Algumas conclusões: a Jamaica é o que apresenta maior peso de mulheres em cargos gestão (59,3%). Portugal aparece em 40.º lugar com 34,6%.

A situação é mais desfavorável em termos igualdade se se olhar para o topo da decisão das empresas. A OIT cita um estudo da organização não governamental Catalyst Inc., que abrangeu 44 países, incluindo Portugal: só em quatro estados elas ocupam 20% ou mais dos lugares nos conselhos de administração (Finlândia, Noruega, Suécia e Reino Unido). Portugal, com 3,7% dos lugares de administração ocupados por mulheres, segundo a mesma organização, aparece no grupo dos 13 países com menos representação feminina no topo do topo das empresas (um grupo onde estão também, por exemplo, a Arábia Saudita, a Índia e o Kuwait).

De resto, apenas cerca de 5% ou menos dos lugares de presidência das maiores companhias do mundo são ocupados por mulheres, lembra a OIT. E o estudo divulgado nesta segunda-feira diz que se nada for feito, a este ritmo, “serão necessários 100 ou 200 anos para alcançar a igualdade no topo”.

A OIT identifica aquilo que descreve como “barreiras de vidro” — que se colocam à progressão das mulheres. Em primeiro lugar, explica-se que “há uma concentração” de mulheres em certas áreas: recursos humanos, comunicação, relações públicas, por exemplo. Falta-lhes assim experiência de gestão noutras áreas — vendas, desenvolvimento de produto, por exemplo — que são centrais para que possam trilhar “o caminho em direcção ao topo de hierarquia das empresas”.

“É fundamental que as mulheres alcancem postos directivos em áreas estratégicas para que possamos dispor de uma reserva mais ampla de potenciais candidatos a cargos como directores executivos ou presidentes de empresa”, disse Deborah France-Massin, dirigente da OIT.

Outras barreiras identificadas são bem conhecidas: “As mulheres têm mais responsabilidades familiares do que os homens”; “os papéis que a sociedade atribui a homens e mulheres”; uma “cultura empresarial masculina”, a “falta de políticas e programas igualitários nas empresas”...

“As empresas estão a perder as vantagens que as mulheres podem trazer”, lê-se no relatório que passa em revista vários estudos que mostram que empresas com mais mulheres em lugares de topo saem-se melhor. “Companhias com mais mulheres nos conselhos de administração superaram outras com menos mulheres em pelo menos 26% em termos de retorno do capital investido”, lê-se no documento da OIT que cita, uma vez mais, a Catalyst.

A OIT, que entende que estabelecer quotas nem sempre é uma medida eficaz, recomenda às empresas que apliquem “soluções flexíveis” que permitam às mulheres conciliar as obrigações profissionais e familiares. Diz que os empregadores devem atribuir às mulheres “as mesmas tarefas ambiciosas que aos homens, desde o início das suas carreiras”. E que as associações de empregadores podem sensibilizar os seus associados para este facto, mencionado por France-Massin: “Ter mulheres nos lugares de topo é bom para o negócio.”

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